No primeiro dia, em 18 de maio de 2010, Viva passou o episódio inicial do "Sai de Baixo", "A Festa de Babete"... |
Nesta segunda-feira, o canal Viva completou dez anos de existência... Muita coisa vem sendo escrita sobre a emissora da Globosat, principalmente a respeito das novelas, que se tornaram o prato forte da programação... Já os programas de humor, embora ocupem um espaço significativo na grade, são desprezados por uma parcela significativa do público é até pela direção do canal... Porém, a história do humor no Viva precisa ser contada... Quando as transmissões começaram, em 18 de maio de 2010, o público-alvo inicial era quem viveu infância e adolescência na década de 1990, sem ter TV paga em casa, especialmente as mulheres... Então é por isso que a programação, como vem sendo lembrado na grande rede, combinava atrações anteriores ao ano 2000 com apresentações de programas de outros canais da Globosat e da própria Globo, funcionando quase como um “modelo de entrada”, ainda que tenha demorado para entrar nos pacotes básicos das operadoras... Também explica dois dos maiores sucessos de audiência entre os humorísticos do canal, “Escolinha do Professor Raimundo” e “Sai de Baixo”... Que tinha um “recall” tão bom nos primeiros anos do Viva que mereceu um “remake” em 2013... Justamente quando o humor da emissora matriz, a Globo, passava por uma fase de transição... No que o público mudou suas preferências, influenciado em parte pela conjuntura política após as Jornadas de Junho e o êxito do estilo de humor do “Porta dos Fundos”, o “Sai de Baixo” ficou datado quando reapresentado pela Globo em 2017 – a seleção e os cortes nos episódios não ajudavam em nada – e levado ao cinema em 2019 - mesmo reunindo o maior número possível de integrantes do elenco original... Na verdade, os episódios do Viva tiveram um desempenho irregular na audiência quando mostrados na Globo, mas nesse caso outras circunstâncias tiveram maior influência, como a concorrência no horário e os cortes feitos nos programas... A exibição também serviu como balão de ensaio para fazer a transição do “Vai Que Cola” da Multshow para a televisão aberta, o que devido ao malogro do “remake” do “Sai de Baixo” na programação global não ocorreu... No Viva, a nova temporada, mesmo estreando em meio aos protestos políticos de junho de 2013, foi muito bem sucedida, apesar de Tom Cavalcante, que interpretava o porteiro do prédio onde residia Vavá (Luiz Gustavo), sua irmã Cassandra (Aracy Balabanian), a filha Magda (Marisa Orth) e o “sócio” dela, Caco (Miguel Falabella), que deixou a Globo em 2004, não ter participado... A primeira empregada do apartamento na região do Largo do Arouche, Edlieuza, também não compareceu, dada a recusa de sua intérprete, Cláudia Gimenez, em se integrar ao projeto... Mas uma de suas substitutas na série, Márcia Cabrita, estava lá como Neide Aparecida... A redação final do roteiro do jornalista Artur Xexéo ficou a cargo de Miguel Falabella - que não escrevia habitualmente na série original, e quando o fez, adotou o pseudônimo de Ida Howe... Alis, os textos no início eram feitos por redatores paulistas, notadamente Flávio de Souza, Laerte Coutinho e Rosana Hermann (com supervisão de Cláudio Paiva...), mas depois a série foi assumida pelos "roteiristas de carreira" cariocas, o mesmos que escreviam todas as séries de humor da Globo na primeira década do século, um time que incluía Adriana Falcão, Aloísio de Abreu, Bernardo Guilherme, Bruno Mazzeo, César Cardoso, Juca Filho, Lícia Manzo - ela própria, a hoje badalada autora de novelas, que tem um fã-clube insuportável nas redes sociais - Márcio Wilson, Marcelo Gonçalves, entre outros... (Quando não eram redatores, faziam a supervisão de texto, e vice-versa... Os que menos usavam dos serviços do grupo eram Fernanda Young e o próprio Miguel, que recorreu a turma no "Toma Lá Dá Cá"...) Quando Tom aceitou participar do filme, Márcia saiu de cena em 10 de novembro de 2017, dando lugar a Cacau Protásio - que em 2014 atuou como empregada na série "Trair e Coçar é Só Começar", na Multishow, que coisa, não - na primeira incursão dos personagens em cenas externas depois do episódio “Miami ou Me Deixe”, de 2001, que deveria ter sido gravado no Estados Unidos, porém problemas de agenda do elenco obrigaram a usar de locação o Shopping Cittá América, na região da Barra da Tijuca, como se fosse um “mall” na Flórida... Pois é, não é...
A nova versão do “Sai de Baixo” também era uma ideia de iniciar no Viva uma transição comum a outros canais fechados, de reprises para produções próprias e inéditas... Isso também foi tentado em outros gêneros de programas, vide “Globo de Ouro Palco Viva” – que contribuiu significativamente para aumentar o ranço do público do canal com Anitta –, “Rebobina”, “TV Mulher” e as séries “Damas da TV”, “Grandes Atores”, “Os Donos da História” e “As Vilãs que Amamos” – estes últimos focados nas novelas... No humor, depois do pontapé inicial com o “remake” do “Sai de Baixo” e a experiência com “Meu Amigo Encosto” – série mais “cabeça” dos que a média dos outros humorísticos mostrados pelo canal – o pessoal do Marcius Melhem na Globo emplacou uma nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo”, bem-sucedida tanto na televisão aberta quanto na fechada, ao contrário do “reboot” de “Os Trapalhões”, também prejudicado por outros fatores, ligados ao histórico e a “fanbase” da atração... A programação própria também não se impôs porque as novelas se tornaram o carro chefe da emissora da Globosat e deram ao canal uma certa identidade, algo difícil de perceber com as exibições de outros programas da Globo, até mesmo “Santa Missa em seu Lar” ou a transmissão dos desfiles de Carnaval em 2014... A teledramaturgia seduziu um público fiel e barulhento... Que era atendido satisfatoriamente enquanto havia um número razoável de novelas de sucesso nos anos 1990 no estoque... Quando o filão começou a se esgotar, exibir tramas mais antigas parecia uma alternativa viável - o mito da “regra dos 20 anos” surgiu aí – até a estreia de “Bebe a Bordo”, em 2018, quando ficou evidente um conflito de gerações entre noveleiros, equacionado apenas com a fórmula “duas de 15, uma de 30”... A briga no Viva é entre os noveleiros “boomers” – que preferem as tramas das décadas de 1970 e 1980 – e uma geração intermediária entre eles e os “hipsters” – que fecha com as produções realizadas entre 1990 e 2010 – muitos “Walcyrzetes” estão aí, devido a “Chocolate com Pimenta”, em exibição no canal, e “Alma Gêmea”... Os noveleiros “hipsters”, que costumam ser torcedores dos novos autores, de João Emanuel Carneiro para frente, e habitualmente possuem um enorme “hate” dos antigos, leia-se Aguinaldo Silva (Walcyr Carrasco é igualmente muito “prestigiado” – ainda tem como campo de batalha o “Vale a Pena Ver de Novo” da Globo... Fato atestado pela repercussão nas redes da substituição de “Êta Mundo Bom!!!” por “Avenida Brasil” – que tem um fã-clube à parte entre os simpatizantes do irmão de Cláudia Ohana... Agora, quando as tramas dos novos nomes da teledramaturgia chegarem à maioridade, o Viva está mais ferrado do que agora... Ops!!!... O barulho dos noveleiros faz com que a direção da emissora negligencie os programas de humor, mesmo com eles ganhando mais espaço na programação depois que a necessidade de reforçar os acessos à Globoplay tirou do canal as exibições do “Mais Você” e do “Vidio Xô”... O maior exemplo desse descaso é “Os Trapalhões”, tirado do ar em janeiro... Assim, não deixa de ser uma surpresa o sucesso de “A Grande Família”, mesmo com um esquema de exibição predatório...
O “Sai de Baixo” foi um programa que surgiu fora da Globo, quando Daniel Filho trabalhava forte em sua produtora independente na primeira metade dos anos 1990... Ele aceitou a sugestão, feita pelo ator Luiz Gustavo (que era o pai em “Confissões de Adolescente”, produzido pela empresa de Daniel...) de fazer um humorístico inspirado nas comédias teatrais paulistanas escritas por Marcos Caruso, notadamente “Trair e Coçar e Só Começar”... Que revelou Denise Fraga, vide empregada que se via no meio das aventuras amorosas dos patrões... Então é por isso que o projeto foi oferecido inicialmente ao SBT, onde Denise trabalhava na época, sendo devidamente recusado... Também pesou na proposta o fato de Luiz Gustavo integrar o elenco da peça "Batom", de Walcyr Carrasco, que era apresentada no Teatro Imprensa, pertencente a Silvio Santos - e Luiz também sugeriu que Ana Paula Arósio, com quem contracenava no espetáculo, integrasse o elenco do programa... Enquanto isso, a Globo trabalhava forte para melhorar a audiência nos domingos à noite, e colocou “Casa do Terror” após o “Fantástico” em abril de 1995... Sendo que o humorístico calcado no “terrir” durou apenas duas semanas no ar... Caso tivesse seguido em frente, algo complicado porque humor negro não costuma agradar o público brasileiro, condicionado por anos ao pastelão, bordões, paródias e comédias de costumes, é bem provável que o “Sai de Baixo” nunca tivesse existido... O fiasco de “Casa do Terror” e a volta de Daniel Filho a Globo fizeram com que o humorístico saísse do papel - e fosse colocado no domingo, já que a intenção de Daniel era colocá-lo aos sábados à noite... A inspiração nas comédias do teatro paulistano ficava evidente no local das gravações, o Teatro Procópio Ferreira (Daniel Filho insistiu que o programa fosse feito em São Paulo...), e no destaque dado na divulgação da estreia, em março de 1996, aos personagens de Claudia Jimenez e Tom Cavalcante, a domestica Edileuza e o porteiro Ribamar... A rivalidade de Edileuza com Cassandra e Caco, que vinham morar no apartamento de seu patrão Vavá na região do Largo do Arouche, além da extraordinária capacidade de improvisação de Tom (outra aposta de Daniel, que queria um "arrematador" de piadas para dividir o palco com um elenco de atores de formação, pendendo mais ao drama...), de fato eram importantes... No entanto, a experiência como ator e autor de Miguel Falabella, que trouxe todo o repertório cômico do teatro besteirol carioca, além de seus próprios improvisos e piadas internas, somada as atuações de Marisa Orth e dos experientes Aracy Balabanian (que assumiu um papel pensado para ser de Hebe Camargo, quando da proposta ao SBT, e foi recusado por Nair Bello e Arlete Salles na Globo...) e Luiz Gustavo, também se revelaram essenciais para o êxito do “Sai de Baixo”... Miguel, que não era a primeira opção para o papel de Caco (Fúlvio Stefanini, que também atuava em "Batom" foi cogitado na fase que o projeto foi oferecido ao SBT, e na Globo, pensou-se em Luiz Fernando Guimarães...), ao receber o personagem (anteriormente, ele participava do projeto como um dos redatores), conseguiu criar uma caricatura perfeita da classe média alta brasileira, com pretensões de riqueza, sem escrúpulos de agir com desonestidade e trabalhando forte no preconceito de classe - e que paradoxalmente era quem lotava a plateia do teatro Procópio Ferreira... Tanto que o programa sobreviveu às saídas de Claudia Jimenez – substituída por Ilana Kaplan, Márcia Cabrita e Cláudia Rodrigues – e Tom Cavalcante – que deu lugar a Luiz Carlos Tourinho... Não com o mesmo brilho, mas, enfim... Mais que um sucesso, o programa foi um modismo na sua exibição pela Globo, entre 1996 a 2002... Então é por isso que o Viva apostou no “recall” entre os jovens da época, passando dos 30 em 2010, quando a penetração dos canais fechados ainda era pequena e a atração era uma das poucas opções de programas de humor na televisão aberta... O programa estreou em 18 de maio de 2010 e teve exibições diárias até ser fixado nas noites de terça-feira... Sempre com excelente audiência, o que levou o canal a mostrar a partir de 6 de abril de 2012 a série “Toma Lá Dá Cá”... Não por outra razão que o fato de ser uma “sitcom” com Miguel Falabella, vide Mário Jorge Dasoin... Apesar disso e do número de episódios ser menor – 92 contra 241 do “Sai de Baixo” – a saga dos moradores do Jambalaya Ocean Drive se tornou um sucesso à parte e mesmo com tantas mudanças na programação, permanece firme e forte nas noites de sexta-feira... A atração também trabalha forte na crítica de costumes... Com uma dose maior de “nonsense”, trazia por personagens como a síndica Alvara e seu “sócio” Ladir, além da sogra de Mario Jorge, Copélia, a mãe de sua “sócia” Celinha... A empregada, no caso Bozena, tem bastante importância na trama com suas reminiscências de Pato Branco, daí, mesmo dividindo a cena, com os filhos de Mário Jorge com sua ex-“sócia” Rita – Isadora e Tatalo – e o filho de sua atual “sócia”, Celinha com Arnaldo, atual “sócio” de Rita– Adônis... Todos eles com características peculiares, Isadora mais despachada, Tatalo resignado e Adônis mais sensato... Manter o esquema de exibição original – um episódio por semana, agora reprisado nas segundas-feiras a tarde – ajudou a evitar a saturação da série e também aquele risco da exibição em ordem cronológica revelar as oscilações de qualidade ao longo dos episódios (sem contar que o piloto, em que Rita e Isadora eram vividas por Débora Bloch e Mitzi Evelyn, esta dando um tom "riot girl" à personagem, enquanto Fernanda Souza adotou a linha "cachorra", atribuindo uma "vibe" mais carioca ao tipo, estreou no Viva apenas em janeiro de 2019...) Algo que não foi sentido no “Sai de Baixo” devido ao impacto de seu retorno – após o fim do programa na Globo, em março de 2002, a série foi exibida regularmente apenas na Multshow, entre 2005 e 2006, e somente os primeiros 27 programas... Teve a exibição do episódio inicial da primeira temporada, “A Festa de Babete” na Globo para comemorar o aniversário de 450 anos de São Paulo, em 25 de janeiro de 2004, mas, enfim... A saturação não ocorreu nem com a exibição predatória – além do horário principal, às 21 horas, a atração também era mostrada às 14 horas, às 2 da madrugada e aos sábados, às 17 horas... Ao contrário, como relata o “Almanaque do Sai de Baixo”, em julho, dois meses depois da estreia, o programa era a maior audiência do Viva - em outubro ele passou a ser semanal, e o livro aponta que a razão foi a pressão que fazia sobre a audiência da novela das oito que começa às nove na Globo, na ocasião, “Passione”... Além disso, “Sai de Baixo” passou por problemas comuns a outros humorísticos do Viva... Ou como mostra o “Almanaque”, o canal da Globosat pulou 26 dos primeiros 158 episódios – temporadas de 1996 a 1999 - nos primeiros sete meses de exibição... Um deles, “Toma que o Filme é Teu”, exibido ao vivo em 1998, e que estreou no Viva por meio da versão previamente gravada e usada como “stand-by” para o caso de problemas na transmissão... Quando a Globo programou a série na “Sessão Comédia”, no sábado à tarde, em 2017, a exibição do Viva, que estava no primeiro ano, foi adiantada para a temporada de 2001 – que ainda tinha episódios inéditos no canal pago (ainda hoje, dez anos depois da esteia do Viva, há quatro capítulos da sexta e da sétima temporadas que permanecem inéditos...), vide piadas internas sobre o ritmo frenético de gravações imposto pelo diretor Jorge Fernando, que o canal homenageou em outubro do ano passado exibindo dois episódios em que participou como ator... Com programas mutilados e concentrados num período específico – da entrada de Márcia Cabrita em 1997 a saída de Tom Cavalcante em 1999 – evitando histórias com participações especiais, a reapresentação global conseguiu apenas criar um “ranço” em torno da série, e foi um alívio quando ela deu lugar a nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo”, em dezembro do ano passado... Que deveria ser substituída por “Toma Lá Dá Cá” no último dia 16, porém a Globo preferiu voltar com a “Sessão de Sábado”... Nada disso, e tampouco a perda de espaço de Miguel Falabella na Globo, repercutiu no Viva, onde as duas produções seguem firmes e fortes... Ganhando inclusive a companhia de outra atração com Falabella – “Pé Na Cova”, mais suburbana e surrealista – entre janeiro de 2019 e março deste ano, às quintas-feiras... Assim, o ator e autor podia ser visto na faixa noturna do Viva três dias por semana, fora as reprises... Que coisa, não???...
Mesmo quando exibição se tornou semanal, sucesso continuou e novos episódios foram produzidos em 2013... |
A nova versão do “Sai de Baixo” também era uma ideia de iniciar no Viva uma transição comum a outros canais fechados, de reprises para produções próprias e inéditas... Isso também foi tentado em outros gêneros de programas, vide “Globo de Ouro Palco Viva” – que contribuiu significativamente para aumentar o ranço do público do canal com Anitta –, “Rebobina”, “TV Mulher” e as séries “Damas da TV”, “Grandes Atores”, “Os Donos da História” e “As Vilãs que Amamos” – estes últimos focados nas novelas... No humor, depois do pontapé inicial com o “remake” do “Sai de Baixo” e a experiência com “Meu Amigo Encosto” – série mais “cabeça” dos que a média dos outros humorísticos mostrados pelo canal – o pessoal do Marcius Melhem na Globo emplacou uma nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo”, bem-sucedida tanto na televisão aberta quanto na fechada, ao contrário do “reboot” de “Os Trapalhões”, também prejudicado por outros fatores, ligados ao histórico e a “fanbase” da atração... A programação própria também não se impôs porque as novelas se tornaram o carro chefe da emissora da Globosat e deram ao canal uma certa identidade, algo difícil de perceber com as exibições de outros programas da Globo, até mesmo “Santa Missa em seu Lar” ou a transmissão dos desfiles de Carnaval em 2014... A teledramaturgia seduziu um público fiel e barulhento... Que era atendido satisfatoriamente enquanto havia um número razoável de novelas de sucesso nos anos 1990 no estoque... Quando o filão começou a se esgotar, exibir tramas mais antigas parecia uma alternativa viável - o mito da “regra dos 20 anos” surgiu aí – até a estreia de “Bebe a Bordo”, em 2018, quando ficou evidente um conflito de gerações entre noveleiros, equacionado apenas com a fórmula “duas de 15, uma de 30”... A briga no Viva é entre os noveleiros “boomers” – que preferem as tramas das décadas de 1970 e 1980 – e uma geração intermediária entre eles e os “hipsters” – que fecha com as produções realizadas entre 1990 e 2010 – muitos “Walcyrzetes” estão aí, devido a “Chocolate com Pimenta”, em exibição no canal, e “Alma Gêmea”... Os noveleiros “hipsters”, que costumam ser torcedores dos novos autores, de João Emanuel Carneiro para frente, e habitualmente possuem um enorme “hate” dos antigos, leia-se Aguinaldo Silva (Walcyr Carrasco é igualmente muito “prestigiado” – ainda tem como campo de batalha o “Vale a Pena Ver de Novo” da Globo... Fato atestado pela repercussão nas redes da substituição de “Êta Mundo Bom!!!” por “Avenida Brasil” – que tem um fã-clube à parte entre os simpatizantes do irmão de Cláudia Ohana... Agora, quando as tramas dos novos nomes da teledramaturgia chegarem à maioridade, o Viva está mais ferrado do que agora... Ops!!!... O barulho dos noveleiros faz com que a direção da emissora negligencie os programas de humor, mesmo com eles ganhando mais espaço na programação depois que a necessidade de reforçar os acessos à Globoplay tirou do canal as exibições do “Mais Você” e do “Vidio Xô”... O maior exemplo desse descaso é “Os Trapalhões”, tirado do ar em janeiro... Assim, não deixa de ser uma surpresa o sucesso de “A Grande Família”, mesmo com um esquema de exibição predatório...
"Toma Lá Dá Cá" estreou em 2012, mas piloto com Mitzi Evelyn e Débora Bloch só foi mostrado ano passado... |
O “Sai de Baixo” foi um programa que surgiu fora da Globo, quando Daniel Filho trabalhava forte em sua produtora independente na primeira metade dos anos 1990... Ele aceitou a sugestão, feita pelo ator Luiz Gustavo (que era o pai em “Confissões de Adolescente”, produzido pela empresa de Daniel...) de fazer um humorístico inspirado nas comédias teatrais paulistanas escritas por Marcos Caruso, notadamente “Trair e Coçar e Só Começar”... Que revelou Denise Fraga, vide empregada que se via no meio das aventuras amorosas dos patrões... Então é por isso que o projeto foi oferecido inicialmente ao SBT, onde Denise trabalhava na época, sendo devidamente recusado... Também pesou na proposta o fato de Luiz Gustavo integrar o elenco da peça "Batom", de Walcyr Carrasco, que era apresentada no Teatro Imprensa, pertencente a Silvio Santos - e Luiz também sugeriu que Ana Paula Arósio, com quem contracenava no espetáculo, integrasse o elenco do programa... Enquanto isso, a Globo trabalhava forte para melhorar a audiência nos domingos à noite, e colocou “Casa do Terror” após o “Fantástico” em abril de 1995... Sendo que o humorístico calcado no “terrir” durou apenas duas semanas no ar... Caso tivesse seguido em frente, algo complicado porque humor negro não costuma agradar o público brasileiro, condicionado por anos ao pastelão, bordões, paródias e comédias de costumes, é bem provável que o “Sai de Baixo” nunca tivesse existido... O fiasco de “Casa do Terror” e a volta de Daniel Filho a Globo fizeram com que o humorístico saísse do papel - e fosse colocado no domingo, já que a intenção de Daniel era colocá-lo aos sábados à noite... A inspiração nas comédias do teatro paulistano ficava evidente no local das gravações, o Teatro Procópio Ferreira (Daniel Filho insistiu que o programa fosse feito em São Paulo...), e no destaque dado na divulgação da estreia, em março de 1996, aos personagens de Claudia Jimenez e Tom Cavalcante, a domestica Edileuza e o porteiro Ribamar... A rivalidade de Edileuza com Cassandra e Caco, que vinham morar no apartamento de seu patrão Vavá na região do Largo do Arouche, além da extraordinária capacidade de improvisação de Tom (outra aposta de Daniel, que queria um "arrematador" de piadas para dividir o palco com um elenco de atores de formação, pendendo mais ao drama...), de fato eram importantes... No entanto, a experiência como ator e autor de Miguel Falabella, que trouxe todo o repertório cômico do teatro besteirol carioca, além de seus próprios improvisos e piadas internas, somada as atuações de Marisa Orth e dos experientes Aracy Balabanian (que assumiu um papel pensado para ser de Hebe Camargo, quando da proposta ao SBT, e foi recusado por Nair Bello e Arlete Salles na Globo...) e Luiz Gustavo, também se revelaram essenciais para o êxito do “Sai de Baixo”... Miguel, que não era a primeira opção para o papel de Caco (Fúlvio Stefanini, que também atuava em "Batom" foi cogitado na fase que o projeto foi oferecido ao SBT, e na Globo, pensou-se em Luiz Fernando Guimarães...), ao receber o personagem (anteriormente, ele participava do projeto como um dos redatores), conseguiu criar uma caricatura perfeita da classe média alta brasileira, com pretensões de riqueza, sem escrúpulos de agir com desonestidade e trabalhando forte no preconceito de classe - e que paradoxalmente era quem lotava a plateia do teatro Procópio Ferreira... Tanto que o programa sobreviveu às saídas de Claudia Jimenez – substituída por Ilana Kaplan, Márcia Cabrita e Cláudia Rodrigues – e Tom Cavalcante – que deu lugar a Luiz Carlos Tourinho... Não com o mesmo brilho, mas, enfim... Mais que um sucesso, o programa foi um modismo na sua exibição pela Globo, entre 1996 a 2002... Então é por isso que o Viva apostou no “recall” entre os jovens da época, passando dos 30 em 2010, quando a penetração dos canais fechados ainda era pequena e a atração era uma das poucas opções de programas de humor na televisão aberta... O programa estreou em 18 de maio de 2010 e teve exibições diárias até ser fixado nas noites de terça-feira... Sempre com excelente audiência, o que levou o canal a mostrar a partir de 6 de abril de 2012 a série “Toma Lá Dá Cá”... Não por outra razão que o fato de ser uma “sitcom” com Miguel Falabella, vide Mário Jorge Dasoin... Apesar disso e do número de episódios ser menor – 92 contra 241 do “Sai de Baixo” – a saga dos moradores do Jambalaya Ocean Drive se tornou um sucesso à parte e mesmo com tantas mudanças na programação, permanece firme e forte nas noites de sexta-feira... A atração também trabalha forte na crítica de costumes... Com uma dose maior de “nonsense”, trazia por personagens como a síndica Alvara e seu “sócio” Ladir, além da sogra de Mario Jorge, Copélia, a mãe de sua “sócia” Celinha... A empregada, no caso Bozena, tem bastante importância na trama com suas reminiscências de Pato Branco, daí, mesmo dividindo a cena, com os filhos de Mário Jorge com sua ex-“sócia” Rita – Isadora e Tatalo – e o filho de sua atual “sócia”, Celinha com Arnaldo, atual “sócio” de Rita– Adônis... Todos eles com características peculiares, Isadora mais despachada, Tatalo resignado e Adônis mais sensato... Manter o esquema de exibição original – um episódio por semana, agora reprisado nas segundas-feiras a tarde – ajudou a evitar a saturação da série e também aquele risco da exibição em ordem cronológica revelar as oscilações de qualidade ao longo dos episódios (sem contar que o piloto, em que Rita e Isadora eram vividas por Débora Bloch e Mitzi Evelyn, esta dando um tom "riot girl" à personagem, enquanto Fernanda Souza adotou a linha "cachorra", atribuindo uma "vibe" mais carioca ao tipo, estreou no Viva apenas em janeiro de 2019...) Algo que não foi sentido no “Sai de Baixo” devido ao impacto de seu retorno – após o fim do programa na Globo, em março de 2002, a série foi exibida regularmente apenas na Multshow, entre 2005 e 2006, e somente os primeiros 27 programas... Teve a exibição do episódio inicial da primeira temporada, “A Festa de Babete” na Globo para comemorar o aniversário de 450 anos de São Paulo, em 25 de janeiro de 2004, mas, enfim... A saturação não ocorreu nem com a exibição predatória – além do horário principal, às 21 horas, a atração também era mostrada às 14 horas, às 2 da madrugada e aos sábados, às 17 horas... Ao contrário, como relata o “Almanaque do Sai de Baixo”, em julho, dois meses depois da estreia, o programa era a maior audiência do Viva - em outubro ele passou a ser semanal, e o livro aponta que a razão foi a pressão que fazia sobre a audiência da novela das oito que começa às nove na Globo, na ocasião, “Passione”... Além disso, “Sai de Baixo” passou por problemas comuns a outros humorísticos do Viva... Ou como mostra o “Almanaque”, o canal da Globosat pulou 26 dos primeiros 158 episódios – temporadas de 1996 a 1999 - nos primeiros sete meses de exibição... Um deles, “Toma que o Filme é Teu”, exibido ao vivo em 1998, e que estreou no Viva por meio da versão previamente gravada e usada como “stand-by” para o caso de problemas na transmissão... Quando a Globo programou a série na “Sessão Comédia”, no sábado à tarde, em 2017, a exibição do Viva, que estava no primeiro ano, foi adiantada para a temporada de 2001 – que ainda tinha episódios inéditos no canal pago (ainda hoje, dez anos depois da esteia do Viva, há quatro capítulos da sexta e da sétima temporadas que permanecem inéditos...), vide piadas internas sobre o ritmo frenético de gravações imposto pelo diretor Jorge Fernando, que o canal homenageou em outubro do ano passado exibindo dois episódios em que participou como ator... Com programas mutilados e concentrados num período específico – da entrada de Márcia Cabrita em 1997 a saída de Tom Cavalcante em 1999 – evitando histórias com participações especiais, a reapresentação global conseguiu apenas criar um “ranço” em torno da série, e foi um alívio quando ela deu lugar a nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo”, em dezembro do ano passado... Que deveria ser substituída por “Toma Lá Dá Cá” no último dia 16, porém a Globo preferiu voltar com a “Sessão de Sábado”... Nada disso, e tampouco a perda de espaço de Miguel Falabella na Globo, repercutiu no Viva, onde as duas produções seguem firmes e fortes... Ganhando inclusive a companhia de outra atração com Falabella – “Pé Na Cova”, mais suburbana e surrealista – entre janeiro de 2019 e março deste ano, às quintas-feiras... Assim, o ator e autor podia ser visto na faixa noturna do Viva três dias por semana, fora as reprises... Que coisa, não???...
Apostando de novo em Miguel Falabella - e Daniel Torres - Viva estreou "Pé na Cova" em janeiro de 2019... |
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