Cartolina verde no vidro frontal do ônibus fabricado por empresa chinesa indica que está a serviço da operadora da linha... |
(Publicado originalmente em 2/12/2019...) A passagem aérea ida e volta de São Paulo a Miami chega a ser mil reais mais barata do que a da rota entre São Paulo e Orlando... Então é por isso que muitos turistas, inclusive brasileiros, preferem comparecer aos Estados Unidos por Miami e depois chegarem a Orlando de ônibus... A distância é razoável – 300 quilômetros – superada em quatro horas... Várias empresas oferecem o serviço, como a tradicional Greyhound, a Red Coach, a Coach Run... Todas vendem passagens pela internet aos portadores de cartão de crédito internacional... O preço por pessoa fica em torno de 30 dólares – o equivalente a 120 reais ou uma viagem rodoviária de São Paulo até o Rio de Janeiro, separadas por 500 quilômetros e seis horas de estrada... Os ônibus da Coach Run saem da baia 5 da área de embarque do Aeroporto Internacional de Miami (MIA), entre as portas de entrada para os guichês das companhias aéreas e o estacionamento... A fachada externa do setor de embarque não está muito diferente de quando apareceu no filme “Esqueceram de Mim 2” – só não está chovendo... Para quem estava hospedado na região de Miami Beach, usar o metrô exigiria ir de ônibus até a estação mais próxima, algo não muito recomendável para quem está com bagagens e acompanhantes... O Uber © do Ronaldo é uma alternativa razoável, não muito barata – 20 dólares, ou seja, 80 reais, mas é o que temos para hoje... Na chegada ao aeroporto, guarda de segurança dá a indicação do local da baia – “all the way” – enquanto a mãe hispânica filma os flhos com o celular... Ao seu lado, um mexicano de camisa rosa reclama que os funcionários do aeroporto não sabiam a porta onde deveria entrar para embarcar... “Estas molesto”, comenta um deles... Reparem que os caixas do estacionamento tem cédulas de dinheiro entre os dedos, como os cobradores de ônibus brasileiros das antigas... Alcançada a baía 5, um pequeno abrigo metálico com banco, há um ônibus Prevost da Red Coach, que se destaca pela cor vermelha, mas não é o que sai daquele ponto... O jeito é esperar... Os adeptos do hobby podem trabalhar forte nos registros dos ônibus e vans de “shutlle” dos hotéis que trafegam pela área de embarque, além do ônibus do aeroporto, usado apenas para o transporte de funcionários, vide letreiro eletrônico “EMPLOYEES ONLY”... No banco do abrigo havia um homem hindu, que logo teria a companhia de uma latina de branco falando que o ônibus dela saía “once y media” 11h30 da manhã... Em seguida, compareceram mãe e filha da Turquia, vide mala azul com etiqueta da Turkish Airlines... Um jovem casal pensou que o ônibus da Red Coach, vermelho, fosse o da Coach Run, branco... Meia hora antes do horário da partida, apareceram duas garotas chinesas... Uma mais baixa, com óculos de tartaruga e espinhas no rosto... A outra, mais alta, com o “voucher” da passagem na mão, perguntou se ali saía o ônibus da Coach Run das 11h30... Como resposta, os passageiros ali presentes mostraram seus respectivos vouchers... O carro da Red Coach deixa a baia quando comparece uma ruidosa família brasileira, repleta de malas, com mãe, filha adolescente e irmãs menores... O ônibus para Orlando chega oito minutos antes da partida... O veículo, na cor branca, não era da frota própria da Coach Run, mas sim da empresa Orlando Sunny, vide indicação que o carro estava a serviço em uma cartolina verde afixada no vidro frontal... Trata-se um HT 45, produzido pela empresa estatal chinesa CHTC – China Hi Tec Corporation – fundada em 1998, e que foi introduzida no mercado estadunidense em 2017... Menor e bem diferente dos vistosos “coaches” de carroceria frisada de alumínio, popularizados pela Greyhound, que foram primeiro importados e depois copiados pela Viação Cometa no Brasil...
Apesar das dimensões reduzidas, as 56 poltronas do ônibus têm conforto suficiente para garantir um cochilo na viagem... |
Estacionado o ônibus, o motorista desce... É um amigo do internauta Pedro Henrique, de estatura mediana, careca e de barba, vestindo camisa azul... Forma-se uma fila, de tamanho considerável... Acontece que hoje é feriado nos Estados Unidos , o “Thanksgiving Day”, então é por isso que a Coach Run está trabalhando forte nos carros extras... Embora o motorista confira os “vouchers” dos passageiros pela lista que tem no celular, não há marcação de lugares... Assim, quem está em grupo pode encarregar uma pessoa de entregar as malas, enquanto as outras podem ir escolhendo seus lugares... Os bancos, com estofamento azul são pequenos, como é habitual nos ônibus chineses, mesmo sendo da empresa espanhola Fainsa, garantindo a impressionante capacidade de 56 passageiros sentados... Os bagageiros têm tampa, e alguns deles são ocupados pelo ar-condicionado do veículo... Os passageiros entram no ônibus, pisam em um tapetinho de borracha com ideogramas chineses e vão se acomodando nos assentos, o jovem casal, o hindu, a latina de branco, as chinesas, um judeu de quipá com a filha de blusa vermelha e olhos fixos no celular... O motorista pergunta por Valéria, e ao certificar-se que ela não compareceu, vai dar a partida e iniciar a viagem, dez minutos depois da hora prevista... E a família barulhenta do Brasil ficou... O ônibus, quase cheio, passa pelo aeroporto, cruza a linha férrea da Tri-Rail e já fora dos limites de Miami, atravessa regiões com grandes muros que tem pássaros estampados, ideia que foi levada para o Brasil, onde estão fazendo isso errado... Ops!!!... Meia hora depois, o veículo faz uma parada na estação Sheridan Street da ferrovia, pouco depois de Fort Lauderdale, em uma localidade chamada... Hollywood!!!... Vide caixa d’água com a saudação “Welcome to Hollywood”... Uma palavra que, como sabeis, quer dizer “lenho sagrado”, ou seja, a própria cruz de Jesus dos Teclados... Dez minutos depois, com lotação completa, vide famílias negras e de muçulmanos, o ônibus volta para a estrada e o motorista usa o microfone para fazer uma preleção... Que começa com seu nome, Alexis, e prossegue com explicações sobre a viagem em um inglês com forte sotaque – africano ou haitiano, Pedrinho – e encerrando com um “God Bless America”... A paisagem das “highways” estadunidenses é monótona – campos e cultivos - o que é compensado pela fluidez do tráfego, exceto no pedágio na região de Lake Worth... Com uma hora e meia de viagem, acontece uma parada em West Palm Beach, vide letreiro do posto de serviço... Embora ao lado da porta do ônibus haja um aviso de “No food, no drink, no smoking”, muitos passageiros nem se dão ao trabalho de descer e comem os lanches que trouxeram consigo... O fato do veículo ter sido estacionado entre imensas carretas – porque sem caminhão os Estados Unidos param – não é um estímulo para descer e esticar as pernas... Mas a família negra tinha um excelente motivo para comparecer ao posto, que tem uma praça de alimentação completa, inclusive com uma filial do Wendy’s, a filha menor precisava ir ao banheiro... Antes de voltar ao volante, Alexis faz mais uma preleção, pedindo para que ninguém deixe lixo no ônibus... Para quem não compreende inglês, ele faz uma demonstração, pegando uma garrafinha de água, a mesma com a qual se serviu no caminho, e a joga no chão... Recado dado, ainda tem chão até Orlando...
Lotado devido ao feriado estadunidense, ônibus tem portas nos bagageiros - inclusive onde está o ar-condicionado... |
O ônibus percorre a Florida’s Turnpike, uma estrada pedagiada, de acordo com o Google Maps ©... Quase quatro horas depois do início do percurso, o veículo estaciona no Gateway Station Shopping Center, na Osceola Parkway, em Kissimmee, ao lado de Orlando... Metade dos passageiros ficam neste centro comercial, inclusive a família negra e os muçulmanos... Mais quinze minutos e o veículo chega ao seu destino – o Mc Donald’s © da Sand Lake Boulevard, considerado o maior restaurante da rede em todo o mundo – tem até pizza, digo... Enquanto manobrava o ônibus no estacionamento, Alexis acrescentou ao seu “God Bless America” um “Make America Great Again”, o que provocou um certo desgosto em alguns passageiros, Donald Trump... Com o carro parado, abriu o bagageiro para entregar as malas... O pessoal estava com tanta pressa de chegar que em menos de cinco minutos não havia mais ninguém por ali, quem sabe precisavam usar o banheiro com urgência, mas, enfim... Para quem esperava o momento propício e fazer um “book” fotográfico do HT45, aquele era o momento ideal... Um Uber para a região de Kissimmee, mais próxima dos parques do Valdisnei e onde os hotéis são mais em conta do que em Orlando – isso porque o Mc Donalds © está ao lado de uma das opções mais acessíveis de hospedagem da cidade, o Rosen Inn International – sai por 19 dólares – 76 reais, Pancada... O Toyota Corolla vermelho é dirigido por um venezuelano, Raul, que fala sobre a “Black Friday”, que acontece no dia seguinte... Os parques temáticos de Orlando dão o ar de sua graça pelos fundos do Volcano Bay, do complexo da Universal... Raul afirma conhecer uma única palavra em português – “férias”... Então é por isso que no caminho ele aponta para o Valdisnei Springs, o centro comercial do complexo, repleto de lojas, restaurantes e casas noturnas... O dia passado nas estradas da Flórida termina quando o Corolla comparece na Grande Laranja, o estabelecimento comercial especializado nos frutos da laranjeira ao lado do hotel... Que agora tem um New Beetle laranja com o urso mascote da cadeia a que pertence o estabelecimento no banco do motorista, indicando o seu “target”... Famílias estadunidenses que, a exemplo dos Grizwold, comparecem a Orlando de carro... Caso Clark tivesse decidido viajar com a “sócia” e filhos para a Flórida, com certeza se hospedaria aqui, digo... Apesar do feriado, desta vez havia um quarto no andar térreo, poupando o trabalho de levar as malas do Hulk pela escada de acesso ao piso superior, Didi Mocó... Ops!!!...
Na chegada a Orlando, Alexis, nosso dedicado motorista, trabalha forte na retirada das bagagens dos passageiros... |
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