sexta-feira, 3 de maio de 2019

Guia Mussum Forévis das Exibições de "Os Trapalhões" no Viva...

Biografia escrita por Juliano Barreto trabalha forte na diferenciação do estilo dos Trapalhões no cinema e na televisão...



















































A estreia do documentário "Mussum - Um Filme do Cacildis!!!" é um excelente pretexto para reler a biografia “Mussum Forévis – Samba, Mé e Trapalhões”... Escrita por Juliano Barreto e lançada em 2014, conta a história de vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, e sua atuação nos universos da música, do cinema e da televisão...  Alis, o livro se destaca entre outras obras que falam sobre os Trapalhões e os integrantes do grupo por diferenciar com clareza seu estilo de humor na televisão e no cinema... Ainda que o autor aponte como um dos fatores que levaram ao declínio de audiência do programa a partir de 1990 a interrupção da produção cinematográfica do grupo...  Normalmente, essa diferenciação não acontece, porque a maioria das análises a respeito dos Trapalhões se baseia nos filmes, cuja disponibilidade para o público, antes em VHS e depois em DVD, é maior do que o programa de televisão, que tem sua exibição condicionada à decisão da Globo de reapresentar a atração produzida entre 1977 e 1993, com uma breve retomada em 1995, ou de permitir a sua exibição no Viva... A qual chegou a ser anunciada em dezembro de 2012, mas só começou a ser mostrada em janeiro de 2018... Somente com os programas feitos entre 1988 e 1995, e muitos deles tiveram quadros excluídos devido a pendências de direitos com as famílias de Ted Boy Marinho e Terezinha Elisa... O avanço da tecnologia digital e da internet reduziu essa desvantagem de “Os Trapalhões” sobre os filmes do grupo, na medida em que permitiu digitalizar as gravações em vídeo das exibições da Globo e disponibilizá-las na rede... Tarefa facilitada com o surgimento dos sites de compartilhamento de vídeos, principalmente o Youtube ©... A maioria das gravações postadas na internet são das reprises que a emissora realizou entre 1994 e 2000, e que tiveram três fases... A primeira, entre janeiro e dezembro de 1994, logo depois que Renato Aragão e a direção da Globo, então comandada por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, decidiram parar com a produção de “Os Trapalhões”, que era exibido aos domingos,  depois dos resultados ruins de audiência das mudanças implantadas na temporada de 1993... No lugar dos programas inéditos, acertou-se a exibição dos melhores momentos de todos os tempos da atração, de segunda à sexta, às 17 horas, antes da “Escolinha do Professor Raimundo”, substituindo o programa “Radical Chic”, inspirado na personagem de Miguel Paiva, que não havia emplacado... O livro de Juliano Barreto relata que a seleção de quadros, feita por Dedé Santana e pelo diretor Maurício Sherman, fez tanto sucesso logo no primeiro mês – 32 pontos de média , com 41 de pico – que o grupo acertou uma reunião com a Globo em setembro para acertar o retorno de “Os Trapalhões” aos domingos em 1995... Volta que de fato aconteceu, porém foi prejudicada pela perda de Mussum, em 29 de julho de 1994, e durou pouco mais de quatro meses... Em abril de 1996, as reprises voltaram, aproveitando a seleção de quadros de 1994 – com as vinhetas de transição de 1993, que tinham Didi, Dedé e Mussum – nas manhãs de segunda à sexta, antes do “TV Colosso”... Quando Angélica estreou na Globo, em setembro, as reprises passaram para o meio-dia, depois da novelinha “Caça Talentos” e antes dos noticiários locais... Em março de 1997, com o fim do material selecionado três anos antes, começou a exibição de quadros em ordem cronológica, dede o especial de estreia do grupo na emissora, de 7 de janeiro de 1977 – vide quadro com Didi de biquíni na piscina de um hotel de luxo...  Essa fase, que permitiu observar com clareza as mudanças no humorístico, durou até agosto de 1998, saindo do ar com o início do horário eleitoral... As reprises recomeçaram em julho de 1999, primeiro após o “Bom Dia Brasil” e em seguida antecedendo os jornais regionais... Misturando programas das duas fases anteriores, o ciclo terminou em agosto de 2000, também por causa da propaganda eleitoral... Em setembro, o Ministério da Justiça oficializou a classificação indicativa para programas de TV, o que dificultou novas reapresentações... Entre os quadros reprisados nesse período, está o esquete cuja veiculação no Youtube © é apontada por Barreto como “momento definidor do renascimento de Mussum como ídolo pop”... Conhecido pelo nome com que foi postado pelo usuário “SpeedMerchants” em 23 de novembro de 2006, “Mussum armando uma pindureta”... “O quadro, de 4 minutos e 33 segundos, em que também participam Didi e Tião Macalé foi filmado nos tempos do diretor Adriano Stuart e só  25 anos depois foi desenterrado rumo a um sucesso enorme (...) A transformação de Mussum em meme começa pelo jeito de falar do personagem e seu léxico característico, que facilita seu reconhecimento como piada para quem sabe que a referência do plural errado é uma ligação ao humor do trapalhão...  Com o vídeo ‘Mussum armando uma pindureta’, a coisa foi além da brincadeira com o português errado por causa do grande número de frases e palavras capazes de ganharem vida própria e independentemente da obra como um todo... Dividindo as brincadeiras de Mussum, Didi e Macalé, o conteúdo conseguiu se multiplicar e chegar bem mais longe”. O termo pindureta mencionado brevemente no quadro, por exemplo, ganhou destaque ao aparecer no título da página no Youtube © e entrou para o vocabulário de quem pensa em dar algum calote por aí”...  O título do vídeo também ajudou a jogar o foco em Mussum, cuja tentativa de pindureta é na realidade a preparação para o “punch” da piada, que é a frase no estilo “carta enigmática” ("O pior não é ocê beber, é ficar devendo... Nós chama a cana"...) com que o garçom Didi se recusou a aceitar o calote e fez Mussum e Tião serem presos por um policial... “O jeito irônico de Didi cumprimentar seus clientes, chamando-os de bacharéis, diplomatas e engenheiros, entre outros elogios, também é facilmente imitável e replicável... Após ver o vídeo é quase impossível resistir à tentação de chegar a uma mesa de bar e cumprimentar seus amigos fazendo a mesma brincadeira... Cantar os versos iniciais de ‘Lá no Morro’, pedir para o garçom ‘completar o lance’ ou chamar as garrafas de 600 ml de cerveja de ‘ampolis’ é tão engraçado de ver quanto fácil de imitar”... Talvez não tanto a performance de Tião cantando “Jenny, Jenny”, de Little Richard, mas o fato é que todos esses componentes, para o autor, levaram  o vídeo a alcançar a marca de 3,3 milhões de acessos na época da publicação do livro, em 2014 – atualmente, já são 5,8 milhões de acessos... Adriano Stuart assumiu a direção do programa em 1980, substituindo Augusto César Vannucci, que estava no comando desde a estreia, em 1977, quando o estilo de humor cujas bases eram , nas palavras do autor do livro, “o improviso, o caos, as tortas arremessadas na cara” conseguiu enquadrar e subverter o “Padrão Globo de Qualidade”, permitindo aos comediantes “usar o cotidiano e improvisar”, levando a quadros “com mais malícia e cacos”, onde se “ironizava mais e mais os cenários elaborados e o jeito certinho de fazer TV do padrão Globo”, pois “Didi começou a escancarar o mundo de mentirinha dos cenários”... Sem contar que “outra solução para unir a sofisticação da Globo ao humor anárquico dos trapalhões foram as sátiras musicais”... Antes, Stuart havia sido redator do programa – na companhia de Carlos Alberto de Nóbrega e Mário Wilson -  e desde 1978 dirigia os filmes dos Trapalhões no cinema... De acordo com a biografia de Mussum, “possuía um senso de humor calcado no deboche e na malícia das pornochanchadas... Com Stuart, não existia piada pesada demais... Usando o tom certo, era possível insinuar cenas de sexo, mostrar bebedeiras dionisíacas, tiros, assaltos, brigas e o que mais os redatores achassem engraçado... Isso incentivava ainda mais o improviso nos quadros e deixava o elenco bastante à vontade para levar para a frente das câmeras o mesmo tipo de brincadeiras que faziam nos bastidores (...) Mais uma característica de Adriano Stuart muito apreciada e respeitada era a valorização homogênea do elenco... O diretor escolhia Dedé, Mussum e Zacarias como protagonistas dos esquetes tanto quanto escalava Didi... Não hesitava de deixar o trapalhão líder de fora de alguns quadros ou em usá-lo como escada para que os outros brilhassem... Essa filosofia de incentivo ao improviso e prioridade para a igualdade do quarteto foram essenciais para a produção de alguns dos momentos mais memoráveis da história de ‘Os Trapalhões’... Barreto cita como exemplos os shows de calouros apresentados por Dedé – vide “O Casamento da Filha do Facêta” – o esquete da pindureta e o quadro em que Mussum fica entalado em uma banheira... Stuart  deixou a direção do programa em 1981, após desentendimentos com Renato Aragão nas filmagens de “Os Saltimbancos Trapalhões” nos Estados Unidos...  Por indicação de Chico Anysio, a direção do programa foi assumida por Osvaldo Loureiro, experiente ator com formação teatral e diretor dos shows de Chico...  “Para dar uma chacoalhada na audiência e aproveitar o carisma do quarteto, a temporada de 1982 seria gravada no Teatro Fênix, com a presença da plateia no auditório e, junto com os esquetes, traria novidades como entrevistas com personalidades, brincadeiras de picadeiro, e claro, os números musicais com intervenções cômicas de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias”... Em agosto de 1983, acontece a separação do grupo, detonada segundo o biógrafo de Mussum por uma reportagem de capa da revista “Veja” sobre Renato Aragão, que teria desagrado os outros integrantes e levado a uma discussão sobre a divisão do faturamento dos filmes...  A partir de setembro, Didi passou a fazer “Os Trapalhões” sozinho, sob a direção de Gracindo Junior, com os reforços de Roberto Guilherme, Zilda Cardoso, Rogério Cardoso, Augusto Olímpio – que ganhou o apelido de “Cascão” e Arnaud Rodrigues... A audiência caiu e a Globo estudou a possibilidade de criar um novo elenco principal para a atração, sondando nomes como Sérgio Mallandro, Regina Casé, Ronald Golias e Costinha... Se bem que... A ideia de chamar Golias partiu de Carlos Alberto de Nóbrega, que era redator do programa – ele contou isso em entrevista ao programa “A Tarde é Sua”, de Sônia Abrão – num momento em que Golias estava afastado da televisão, fazendo apenas shows e eventos corporativos... E a Globo recusou-se a contatá-lo... Alvos do interesse do SBT, Dedé, Mussum e Zacarias foram colocados no humorístico “A Festa é Nossa”, exibido aos domingos, no qual “atuavam como mecânicos em uma oficina de carros e aprontavam confusões no melhor estilo ‘Os Três Patetas’, com cacetadas, caretas e gritos”...  Como os índices de audiência de “Os Trapalhões” não melhoravam, a Globo começou a tentar a reconciliação do grupo de todas as formas, inclusive por meu de seu proprietário, Roberto Marinho... Graças à intermediação de Beto Carreiro, os quatro trapalhões se reconciliaram em fevereiro de 1984, e no mês seguinte voltaram a gravar o programa juntos... A reestreia contou com uma nova abertura, feita por Hans Donner em equipe, onde o grupo virava desenho animado por meio da técnica de rotoscopia...  O diretor Gracindo Junior foi substituído por Paulo Araújo, “experiente ator e diretor de comédias”, que interpretou o Agostinho na primeira versão de “A Grande Família” e dirigiu o humorístico “O Planeta dos Homens”...  De onde Araújo tirou a inspiração para a cenografia e o “timing” dos quadros da nova temporada... “A base do novo cenário principal era toda branca, com elementos cenográficos meramente simbólicos... Um esquete passado em uma praça, por exemplo, seria montado apenas com um banco e um poste, sem fundo, árvores, cercas ou figurantes... A criação dos detalhes do local ficava com a imaginação do espectador, que mal tinha tempo para se incomodar com a simplicidade, pois, muitas vezes, as piadas eram representadas em pouco menos de um minuto”...  Poupar verbas de produção ajudava a focar em um projeto mais ambicioso, realizado no começo de 1985... “Durante a temporada de reprises do programa dominical, o grupo passou uma temporada em Los Angeles, gravando o que seria sua primeira série de programas feitos para exportação... Foram 14 episódios com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias fazendo suas palhaçadas nos cenários da Universal City... As fitas rodaram produtoras do mundo todo, mas acabaram sendo mesmo exibidas primeiro no próprio programa da Globo, como blocos especiais”... Excluída das reprises da década de 1990, a série “Os Trapalhões em Los Angeles” era a “mosca branca” da produção televisiva do grupo, e reapareceu somente em agosto do ano passado, postado no Youtube © pelos colecionadores Diego Munhoz (citado na biografia de Mussum, como um dos grandes digitalizadores de vídeos de “Os Trapalhões”...), Lozandres Braga e Rafael Barão... Nos anos seguintes, não houve grandes mudanças no programa, segundo o autor do livro...”Entre abril de 1986 e março de 1988, o humorístico passou pelas mãos de Walter Lacet, Carlos Maga e Maurício Tavares... Cada um deles, ao seu estilo, alterou um pouco a fórmula vencedora, acertando e errando em algum grau, mas nunca mexendo o suficiente para alterar o status do quarteto... As mudanças dessa época, a bem da verdade, não traziam nenhuma ruptura radical... Manga tentou dar mais unidade ao programa, gravando mais externas e juntando um quadro no outro, para criar certa continuidade”... Em outro trecho da obra, Barreto aponta que com Manga, “o programa de domingo na Globo havia resgatado sua vocação original de pastelão e resgatado, com enorme sucesso, o quadro do quartel do Sargento Pincel, originalmente chamado de ‘Os Legionários’, em 1965, na TV Excelsior”...  Quanto a Lacet, “acostumado a produzir grandes musicais, aumentou a participação de artistas da Globo nas trapalhadas de cada domingo”... Tavares, diretor em 1987, “repetiu a ideia de aumentar a espontaneidade do quarteto ao fazê-lo interagir ao vivo com a plateia do Teatro Fênix”... Em um desses quadros, Jorge Lafond apareceu pela primeira vez como Vera Verão, originalmente um primo de Mussum que viajava para os Estados Unidos, onde se tornou empresário artístico, passando a agenciar Michael Jackson – de Pirituba, digo...





















Viva não exibe quadro que livro aponta como responsável por reconduzir Mussum à condição de ídolo pop, o da pindureta...


















































O surgimento do canal Viva, em 2010, representou uma excelente oportunidade para o resgate de “Os Trapalhões”... O programa chegou a ser anunciado em dezembro de 2012, mas a exibição começou apenas em janeiro de 2018, aproveitando a resolução de questões de direitos para permitir a produção do “remake” exibido pelo Viva e pela Globo em 2017... Das três temporadas previstas, apenas uma foi gravada... O programa original começou a ser mostrado em 1º de janeiro de 2018, a partir da temporada de 1988, exatamente como aconteceu na Globo Portugal alguns meses antes... Esse foi o primeiro ano em que Wilton Franco, criador do programa “Adoráveis Trapalhões”, o primeiro protagonizado por Renato Aragão, na TV Excelsior, em 1966, assumiu a direção geral da atração, auxiliado por Iran Lima... A biografia de Mussum relata que o humor na Globo vivia uma fase agitada com a ida de Jô Soares para o SBT no final de 1987 e as disputas entre Chico Anysio e o pessoal do projeto “Novo Humor”, criado para preencher a vaga deixada pelo fim do “Viva o Gordo” e que levou a estreia do “TV Pirata”... Quando a Globo decidiu contratar Gugu Liberato, o SBT tentou pegar carona em rumores sobre o fim de “Os Trapalhões” para tentar contratar Dedé, Mussum e Zacarias... Por pressões de Chico Anysio, que temia perder espaço para a nova geração de humoristas, o contrato dos três foi renovado e ele passou a supervisionar o programa... Renato Aragão, por sua vez, ao mesmo tempo que alugava seus estúdios de cinema para as gravações do “TV Pirata”, “emplacou como novo diretor do programa o veteraníssimo Wilton Franco, também conhecido como ‘o inventor dos Trapalhões”’... O programa passou a ser aberto com os quadros com plateia, gravados no Teatro Fênix... “Soava moderno e dinâmico, mas, na verdade, era exatamente o que os humoristas faziam nos anos 1960, antes do advento do videotape... Franco era o cara certo para o projeto e as trapalhadas entraram, após anos de mesmice, verdadeiramente em uma fase diferente... Didi, Dedé, Mussum e Zacarias entravam no palco vestindo seus uniformes de show e brincavam com a plateia e os músicos convidados o tempo todo”... Então é por isso que quase sempre o número de abertura era um dos chamados “quadros de aposta”, típicos dos shows que o grupo realizava pelo Brasil e que ficaram mais frequentes com a reconciliação do quarteto, em 1984 – para aumentar os rendimentos com as apresentações, Renato Aragão deixou um pouco de lado as atividades empresariais e a produção dos filmes e começou a comparecer mais nas turnês...  Os uniformes de show também eram uma sinalização para o público infantil, que teve sua condição de “target” do grupo reforçado por um forte trabalho de marketing, vide lançamento do gibi em que eles eram retratados como crianças... O esforço incluía também a divulgação dos filmes e a distribuição dos LPs... “O improviso reinava, e quem vacilasse, acabava tomando ovadas e tortadas na cara, mesmo que o texto não indicasse isso... Roberto Guilherme e Tião Macalé eram as maiores vítimas”... A comparação dos programas exibidos no Viva com os vídeos de anos anteriores postados no Youtube © revelaram um aspecto não tão favorável das temporadas de 1988 e 1989... Muitos dos quadros são “remakes” de esquetes gravados no final dos anos 1970, quase sempre inferiores às versões originais... Em 1989, tentaram contornar o problema por meio de programas temáticos, nos quais os bate-papos com artistas e músicos eram uma constante... A temporada de 1990 começou com o abalo da perda de Zacarias, onze dias depois de ter pedido licença médica, às vésperas do início das gravações... Que incluíam uma novidade, um bloco “com uma história completa sempre passada dentro do Trapa Hotel”... No qual “cada trapalhão ocuparia um posto fixo, atuando como um dos funcionários do hotel”... Como relata a biografia de Mussum... “A intenção de criar um programa dentro do programa era atender melhor à demanda internacional da Globo, que já exportava sua programação para outros países, mas tinha dificuldade em incluir ‘Os Trapalhões’ no pacote porque a atração não seguia uma ordem serializada, como as novelas, e trazia em sua versão ao vivo muitas piadas entendidas apenas pelos brasileiros”... A  Zacarias, de acordo com Juliano Barreto, caberia o papel de “maitre”, mas que na verdade seria uma reelaboração do garçom Moranguinho, papel que interpretava antes dos Trapalhões no programa “Café Sem Conserto”, da TV Tupi... Sem Zacarias, “o personagem seria engavetado com as participações de Jorge Lafond interpretando o farfalhante cozinheiro Divino, tampando os buracos do roteiro”... O primeiro programa da temporada, exibido em 1º de abril de 1990 teve uma homenagem a Zacarias – a começar pela abertura, com cenas diversas do humorista – que incluiu um texto de Chico Anysio e Didi, Dedé e Mussum prometendo seguir sem agregar um novo integrante ao grupo e “dialogando” com falas de Zacarias tiradas de programas antigos, e o novo quadro fixo... “Quem assistiu ficou com muito mais vontade de chorar do que de rir do primeiro episódio do Trapa Hotel, mostrando a contratação de Didi, Dedé e Mussum para trabalhar no impressionante cenário de dois andares, com elevador panorâmico e portas giratórias”... Se bem que... Outra das razões para a criação do Trapa Hotel era a economia com cenários, despesa que serviu de obstáculo para a ida do grupo ao SBT – Silvio Santos preferiu usar o dinheiro com o “Aqui Agora” e um pacote de novelas mexicanas, como “Carrossel”... Nesse primeiro episódio, Didi adotava uma órfã que fugia do padrasto, interpretada pela pequena Duda Little... Personagem que, por algum motivo, não tinha a simpatia de Barreto, que ao listar o elenco do Trapa Hotel, a chama de “criança chatinha”... Faz sentido, porque o quadro começou a engrenar apenas quando as histórias deixaram de ser centradas em Duda  - vide Japonês dos Canecos e os três episódios de pura vergonha alheia da parte de Regina Restelli... Didi, como auxiliar do gerente Batatinha, vivido por Roberto Guilherme, tinha a companhia de Dedé – que o livro diz que era um “personal trainner”, embora o termo não fosse conhecido no Brasil na época – e Mussum – classificado como “segurança”, embora aparecesse como detetive do hotel... Eventualmente, o personagem tinha momentos de maior destaque... Então é por isso que o livro não lembrou do episódio do Trapa Hotel em que Mussum viveu o moscão, quer dizer, o Chapolon Pretis, uma versão do Chapolin Colorado, para livrar Didi e Duda dos bandidos vividos por Iran Lima e Luis Mangelli...  Em 1990, Wilton Franco passou a dividir a direção do programa  com Maurício Sherman... Cujo estilo inconfundível começou a se manifestar no segundo episódio da temporada, o primeiro com a abertura das letras atrapalhadas... Em um bailado com dançarinas de figurino “cyberpunk” – com peruquinhas louras estilo Chitãozinho e Xororó – os três Trapalhões, de fraque e cartola prateados, dançavam ao som de uma canção especialmente composta para o número... “É hora de brincar e de sorrir, é hora de canções... Apenas a alegria tem lugar, em nossos corações... A tristeza veio aqui fora de hora, mas levou um pontapé e foi embora... E porque atrapalhamos a tristeza, somos os Tra-pa-lhões!!!”... No quadro com plateia que abria o programa, a ordem era aproveitar o modismo da lambada, vide Didi sendo apelidado de “loirinho da lambada”... “Invariavelmente nos episódios os personagens apareciam dançando o ritmo nortista e rolavam até algumas tomadas focadas nas pernas e nas bundas das dançarinas com a intenção de chamar a atenção do público adulto”, descreve o livro, que inclui nesse esforço a paródia da novela “Pantanal”, sucesso da época na Manchete, transformada em “Espantanal”... Faltou mencionar a ironia que Didi e Dedé fizeram ao “boom” de erotismo televisivo impulsionado pela trama, criticando as apelações usando um figurino sem calças...  Sherman introduziu bailados até nos quadros do quartel, que também tinham seu tema musical... “Um dois, feijão com arroz, um dois, feijão com arroz... Nós somos do quartel, que não está no mapa, o cabo é uma toupeira e o sargento é um panaca”... As recrutas com pernas de fora levaram ao inacreditável quadro do “strip-tease de combate” – conhecido no Youtube © como “Aeróbicha”, pois quem de fato tira a roupa é o Sargento Pincel – e uma inspirada esculhambação do número feita pelos próprios soldados... Certo, Sherman quis dar um toque “político” às piadas do grupo, nos primeiros programas Didi sempre começava com um “stand-up” sobre o Plano Collor, porém seu grande êxito foi a criação do personagem Ananias para Renato Aragão... Um anão capaz de enormes proezas, e que não admitia ser chamado de baixinho... Quadro que era abrilhantado por participações especiais, vide Chico Anysio – supervisor do programa – Faustão, Miguel Falabella, Chitãozinho e Xororó...  Wilton Franco, por sua vez, mantinha-se como a voz que conversava com seu amigo Aparício, personagem com o qual Renato Aragão encarnava o dia-a-dia de uma “criatura úmida” do povo – vide o episódio do Trapa Hotel em que foi pedir emprego... Pena que Didi tenha chegado primeiro... Ops!!!... Em 1991, houve mais dois esforços de criar quadros fixos... O “É isso aí my brother”, vide coreografia de “street dance”, no qual acontecem algumas das pouquíssimas participações de Ted Boy Marino que não foram cortadas pelo Viva, como um dos punks da gang comandada por Roberto Guilherme com peruca estilo moicano... E a oficina da Sorvetão, em que Andréa Faria comandava os mecânicos Didi, Dedé e Mussum... O Trapa Hotel prosseguia, diminuindo ainda mais a participação de Duda, que passou a contracenar com a pequena Alessandra Aguiar... Porém, o que salvou a temporada da obscuridade foram as comemorações dos 25 anos dos Trapalhões – sempre contadas a partir do início do programa “Adoráveis Trapalhões”, da TV Excelsior, em 1996 – cujas atrações, até o beijo de Renato Aragão na mão do Cristo Redentor, eram anunciadas pessoalmente no programa por Wilton Franco e Maurício Sherman e os diretores designados pela Globo para auxiliar na preparação do especial de 25 horas – Aloysio Legey e Walter Lacet... Maratona que tem algumas atrações listadas na biografia de Mussum, tais como o “show de calouros” – sem alusões à concorrência, Silvio - as performances de Glória Menezes ao piano e Regina Restelli fazendo cover de Madonna (aproveitando sua semelhança física com a cantora, embora a voz seja muito diferente...), Didi se introduzindo como um vírus de computador na vida digital da androide Dorfe, vivida por Dóris Giesse no programa “Dóris Para Maiores”, Mussum reencontrando Chico Anýsio, que deu a ele suas primeiras oportunidades no humor televisivo, na versão da “Escolinha do Professor Raimundo” em que atores das novelas globais substituíam os comediantes e seus tipos  – e que foi a semente da versão estrelada por Bruno Mazzeo, vide Evandro Mesquita como Armando Volta... As comemorações também incluíam a divulgação do filme “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude” e do LP “Amigos do Peito”, que incluía um misto de homenagem e ironia ao presidente Collor, “Roxo de Paixão”... A audiência, porém, estava em trajetória descendente, e como relata Barreto, Dedé e Mussum por pouco não renovaram seus contratos, insatisfeitos com a posição secundária que tinham dentro do programa, e foram para o SBT... O que só não aconteceu porque Renato Aragão se envolveu pessoalmente nas negociações depois que Dedé teve uma crise de depressão, causada pela revelação de que tinha um filho fora do casamento, conforme narra Barreto...



















Canal também não mostra outro sucesso de público e crítica de Mussum, o esquete em que ele fica entalado na banheira...


















































No primeiro programa da temporada de 1992, Didi anunciou que cada episódio seria dividido em duas partes... Na primeira, variedades, e na segunda uma história completa de Vila Vintém, “completamente centrada no tipo preferido de Renato, o pobre vagabundo de bom coração, amigo das crianças e inimigo dos ricos e opressores”...  Alis, a estreia da temporada foi toda para contar a história de como Tininha – vivida por Alessandra Aguiar, com 4 anos de idade na época – fugiu de um orfanato e conheceu Didi e sua cachorrinha Pipoca na região da Vila Vintém... História confessadamente inspirada no filme “O Garoto”, de Charles Chaplin, vide título do episódio, “A Garota”... Didi, segundo o livro, “estava pronto para usar suas lições de solidariedade para fazer rir, chorar e matar muita gente de tédio”...  Apenas no programa seguinte estreou, junto com a nova abertura (um pastiche da vinheta de 1984, que voltou a trazer os Trapalhões em rotoscopia...), a outra parte da atração, batizada de Agência Trapa Tudo, “uma empresa caçadora de talentos dirigida pelos três trapalhões”... “Embora tivesse sido roteirizada para mostrar histórias com começo, meio e fim, as cenas na Trapatudo perdiam-se em um esquema de total anarquia... O ‘escritório’ recebia como convidados atores globais, músicos, e humoristas em grande quantidade,  e desta forma, abria espaço para o improviso e as brincadeiras de palco tão ausentes nas últimas temporadas do programa”, resume Barreto... Que reconhece a anarquia e o improviso como marcas da Agência Trapa Tudo, características herdadas dos quadros gravados com plateia, até porque era uma continuação desse esquema, e que faziam dela a melhor parte do programa... Embora não mencione que o fato de Chico Anysio supervisionar a atração garantia que todo o elenco da “Escolinha do Professor Raimundo” comparecesse na Agência... Vide participações de Castrinho, Costinha, Geraldo Alves – com a imitação de Chaves que fazia na “Escolinha”, entre outras – Nizo Neto, Orlando Drummond (que encarnou um de seus mais famosos personagens na dublagem, o marinheiro Popeye...), Roni Cócegas, Tom Cavalcante, Zé Vasconcelos, Zezé Macedo... E de fato, como aponta o biógrafo de Mussum, havia “participações especiais memoráveis” e “outras nem tão memoráveis assim” – o livro é muito feliz em mencionar Eri Johnson, que fazia um gago... O qual, por mais incrível que pareça, apareceu em três programas... Dos quais só o último, com Zé Vasconcelos, se salva... Então é por isso que  a audiência... insistia em não melhorar... Segundo o autor, porque “havia no ar um desejo de menos escapismo chapliniano e mais esculacho calcado no dia-a-dia, receita muito bem usada pelos cassetas e por Faustão, como também pelas séries ‘Os Simpsons’ e ‘Família Dinossauros’, outros grandes sucessos ‘modernos’ da grade de programação dominical da Globo”... Vide “Família Dinossauros” sendo colocada entre “Os Trapalhões” e o “Fantástico” em meados de 1992... Alis, a temporada terminou com uma boa sequência de paródias de programas das emissoras concorrentes - "Aqui e Lá Fora", onde Mussum interpretava o repórter policial Mil Fômes, "Jô Suado Onze e Cacetada", "Claudioval Fecha o Fogo"... Isso sem contar com a gozação em cima do grande acontecimento quadrinhístico da época, a morte do Super Homem - Mussum trabalhava forte como The Flash...   No final do ano, Barreto conta que a Globo queria aproveitar o sucesso de Xuxa na América Latina para preparar uma versão em inglês do programa... Assim, o “Xou da Xuxa” sairia do ar e uma das opções para substituí-la nas manhãs globais seria colocar “Os Trapalhões”, “assumindo de vez a vocação de humor infantil, ocupando a programação matinal do plim-plim, em meio a desenhos animados, dançarinas e gincanas com a plateia”, com o horário que ocupavam aos domingos sendo preenchido por um alongamento do “Domingão do Faustão”... Outra opção, cita o autor, seria entregar a faixa para Sérgio Mallandro, que apresentava o “Show do Mallandro”, exibido  antes do “Xou da Xuxa” e substituía a apresentadora em seus períodos de férias... O que Barreto não menciona é que essa ideia teve a enfática oposição do próprio diretor do programa de Sérgio Mallandro – Bofinho – que preferiu apostar no projeto da “TV Colosso”... Quanto a “Os Trapalhões”, o programa foi entregue ao núcleo de Guel Arraes, responsável pelo “Casseta e Planeta Urgente”... Barreto aponta que o novo diretor, José Lavigne, anunciou que o programa, com duração reduzida de uma hora para 45 minutos, seria dividido em duas partes... Uma metade, escrita pelo novelista Carlos Lombardi, apenas com Renato Aragão, onde “interpretaria dois personagens (...) um milionário malvado chamado Faustino, e seu irmão pobre, Severo Severino, que chegaria ao Rio para ser tutor de duas crianças, Tati, Duda e Tininha”... Ideia que já havia sido utilizada em um episódio de “Vila Vintém”, em que ele fazia, além de Didi, um milionário italiano que queria adotar Tininha... Não funcionou, em especial pelo fato da voz do ricaço ter sido dublada (por Silvo Navas, dublador clássico de Bud Spencer...), o que tirava toda a espontaneidade da interpretação de Renato...  A outra parte seria no estilo da “TV Pirata”, que havia sido dirigida por Arraes... “Isso quer dizer que, no lugar de humoristas, a preferência seria por atores... Também queria dizer que nas entrelinhas que artistas capazes de fazer um só tipo, e ainda assim sem decorar os textos, como Tião Macalé, Dedé e Mussum, teriam que rebolar para se adaptar às reformas”...  A intervenção de Renato Aragão, que não se apeteceu com a ideia de fazer papel de “melquior”, alterou os planos... “Os esquetes com os três trapalhões juntos continuariam a formar a base para o programa, com as participações de velhos conhecidos como Dino Santana, Ted Boy Marino, Roberto Guilherme, Andréia Sorvetão, Conrado e Baiaco, mas a forma de produção dos quadros mudaria bastante... Sem auditório ou claque, trocando o Teatro Fênix pelos estúdios da RA produções , os trapalhões iriam interagir com uma equipe de maquiadores, figurinistas, técnicos em efeitos especiais e receber textos de um time de 13 redatores”... Entre os quais os responsáveis pelo texto do “Casseta e Planeta Urgente”... A parte de Lombardi se transformou na “sitcom” (Barreto chama de “novelinha”...) “Nos Cafundós do Brejo”, com 12 minutos de duração (metade do previsto originalmente...), em que Didi interpretava Zé do Brejo... Na nova abertura, Didi, Dedé e Mussum manipulavam a si mesmos, como se fossem marionetes...  “O público precisaria de tempo para absorver as mudanças e a numerosa equipe de produção ainda precisava experimentar mais, acertando e errando, para chegar a um ponto ideal... Na verdade, o que precisava ser feito era afinar a torrente de ideias novas dos roteiristas e manter o padrão ‘para toda a família’ construído ao longo das décadas, sem se arriscar com piadas e referências que as crianças não entendessem”... Nem é preciso dizer que todo esse cuidado não resultou em melhoras na audiência e ainda tornou a temporada de 1993 uma das mais ruins (senão a pior...) no conceito dos fãs mais tradicionalistas... A exibição no Viva demonstrou que a sofisticação da forma não necessariamente conseguia suplantar a simplicidade do conteúdo... Mesmo sem a iconoclastia de anos anteriores, a graça natural de Mussum se sobressaía, o livro aponta que ela era valorizada pelos redatores em quadros como a paródia “Duvide-o-dó Show”, no qual imitava Miguel Falabella, e Didi conseguia subverter a rigidez dos textos, por exemplo, transformando em bordão a narração dos títulos dos quadros, vide “Os Pirata!!!”... Nos últimos programas, "Nos Cafundós do Brejo" virou "As Aventuras do Zé do Brejo" - sempre com Renato atuando sem os companheiros - e o quadro do quartel voltou com o nome de "Trapacademia de Polícia", onde o Sargento Pincel foi rebatizado como Brochas... Ao comentar o êxito das reprises de 1994, Barreto não hesita em dizer que “a responsável por sufocar a atração foi a própria pressa da Globo em inovar”... E retomar o programa em 1995, já sem Mussum, priorizando reprises dos quadros de 1993, também não ajudou... Pois é, não é... 




















Reapresentação em 1988 garantiu presença no Viva de Mussum cantando "Sou Filho de Piloto"  no show de calouros do Dedé...

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