Parece o Boni, mas é Chabelo com Roberto Gómez Bolaños na homenagem feita para Chespirito em 2012... |
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, antigo diretor geral da Rede Globo e, sempre é oportuno lembrar, pai do Boninho, lançou no último mês de dezembro o livro "Unidos do Outro Mundo - Conversas com os Mortos"... Uma obra de ficção, alerta o autor, que também é o personagem principal... Na história, o "Chabelo Brasileiro" rende 20 pontos no Bolão Pé-na-Cova e parte para uma série de encontros e diálogos com pessoas que conviveu ao longo de sua vida... Um processo que o sogro da Ana Furtado chama de "Reconexão" - nada a ver com a Record... Só que há um capítulo perdido nessa história... A recordação de um encontro sigiloso na Cidade do México com ninguém menos que Roberto Gómez Bolaños... Em discussão, a aquisição das séries "Chaves" e "Chapolin" pela Globo... Mas... Comprar as séries para exibir ou engavetar???... Essa questão é objeto de um importantíssimo acerto de contas com o passado:
"Uma voz rouca me chamou:
- Chabelo!!!... Como está???...
- Chespirito!!!... Você insiste em me comparar àquele tipo que aparece diante das câmeras usando calças curtas e fazendo voz de criança. Deve ser por isso que considero Cantinflas muito superior a você como comediante. Ele tinha a mesma idade de um famoso cômico do cinema brasileiro, Mazzaropi. Seu estúdio ficava em Taubaté, no Vale do Paraíba, região do estado de São Paulo onde funciona a TV Vanguarda, da qual sou sócio.
- Cantinflas foi grande no cinema. Fiz alguns filmes de sucesso, porém meu maior êxito foi mesmo na televisão. Lamento que as negociações para a exibição de "Chaves" na Globo não tenham dado certo...
- Nunca foi a nossa intenção. Em 1985, a Televisa mexicana tentou comprar a TV Record. Na época, a legislação brasileira proibia que estrangeiros fossem proprietários de emissoras de rádio e televisão. Por isso, a Televisa recorreu a dois testas de ferro: Manoel Francisco do Nacimento Brito, dono do Jornal do Brasil, e João Havelange, presidente da Fifa. Se não me engano, um dos vices do doutor Havelange era executivo da Televisa...
- Guillermo Canedo. Eu o conheci bem.
- Quando soubemos das gestões para a compra da Record, decidimos agir em três frentes para impedir a transação. O doutor Roberto falou com o Nascimento Brito. Apesar do Globo e do JB serem concorrentes, os dois eram amigos. Roberto ia convencer ele de que o negócio de televisão era muito arriscado. O próprio Nascimento Brito já tinha conseguido uma concessão que expirou por não ter conseguido colocar a emissora no ar. Sabendo que o Havelange estava envolvido na negociação por suas ligações com o doutor Paulo Machado de Carvalho, um dos sócios da Record, pedimos ao Borgerth que falasse com o Silvio Santos, associado da família Machado de Carvalho. Embora as leis da época impedissem o Silvio de ter duas emissoras numa mesma cidade, como acontecia em São Paulo e no Rio, não interessaria a ele, como comprador dos produtos da Televisa, em ter os mexicanos como concorrentes. Por fim, eu procurei a Televisa dizendo que a Globo tinha interesse em adquirir algumas produções do canal.
- Você se encontrou comigo nos estúdios de Chapultepec. Pensei estar diante de um sósia do Chabelo.
- Você estava fumando no estúdio!!!
- Tinha autorização especial para isso, assinada pelo próprio Emílio Azcarraga Milmo.
- Isso seria inadmissível na Globo. Sofremos muito com incêndios, apesar deles terem ajudado a impulsionar a emissora. Quanto aos negócios, não manifestei interesse pelas novelas, por razões óbvias. Mas sabia do Chaves, pois ele costumava bater de frente com a programação vespertina da Globo, quando exibido com o game show TV Powww. O pessoal da área de vendas internacionais também me aletrou que Chaves e Chapolin costumavam ser a cabeça de ponte da Televisa nos mercados estrangeiros. Assisti alguns episódios e decidi que falaria com o criador do programa.
Comparecimento de Boninho na sessão de autógrafos lembra que mais uma edição do BBB vem aí... |
- Qual a sua impressão sobre Chaves e Chapolin???...
- Por ser um humor pastelão, com fortes doses de nonsense, considerei parecido com Os Trapalhões. Com um pouco mais de ênfase no texto, em tiradas de efeito inesperado, do que no humor físico. Sobre a caracterização como crianças, eles não faziam habitualmente, com exceção de um dos integrantes do grupo. Quanto a paródia de super-heróis, como o Chapolin, eles fizeram muitas vezes. É algo relativamente comum na televisão brasileira. Na Globo, até a Betty Faria... Quer dizer, no programa Brasil Pandeiro ela era a Maria Maravilha, uma versão da Mulher Maravilha.
- Os Trapalhões... É o programa do Renato Aragão? Os brasileiros com que me encontro aqui falam muito dele, gostaria de conhecê-lo.
- Renato também fez muito sucesso no cinema. Mesmo com uma comicidade tão visual, não conseguiu romper a barreira do idioma, embora tenha sido muito bem-sucedido em Portugal e Angola, que são países de língua portuguesa.
- Soube que ele trabalhava com dois cômicos... Um tinha uma graça natural muito forte... O outro também, mas também soube construir um tipo gracioso... Como Ramón Valdes e Carlos Villagrán em meus programas...
- Mussum e Zacarias. Com Renato e Dedé Santana, formavam o quarteto que comandava o programa de maior audiência da televisão brasileira na época em que foi exibido.
- Carlos trabalhava com Ruben Aguirre em um programa de jogos. Ramón era coadjuvante nos filmes do irmão, Tin Tan.
- Renato completou a formação do grupo na Tupi. Com muito custo tiramos eles de lá, onde conseguiram superar o Ibope do Fantástico, e os levamos para a Globo. Também deram muito trabalho quando decidiram se separar, alguns anos depois. O próprio Doutor Roberto pediu a mim que reunisse o grupo novamente, pois Dedé, Mussum e Zacarias poderiam se mudar para a concorrência e superar a Globo na audiência. Conseguimos reconciliar os quatro com a ajuda do Beto Carreiro.
- Oxalá se eu tivesse alguém com esse poder de reunir novamente o nosso grupo.
- Beto Carreiro está por aqui, posso apresentar você a ele.
- Mas teremos que esperar pelo Carlos, pela Maria Antonieta e pela minha Florinda para aparar todas as arestas.
- É para isso que serve a Reconexão, me disseram.
Não, Leo Batista e Cid Moreira não estão na Reconexão... Apenas compareceram ao lançamento do livro... |
- Acredito que as situações do programa do Chaves permitam a identificação do público em qualquer lugar do mundo. Houve um brasileiro que foi diretor da Televisa, se não me engano ele se chamava Augusto...
- Augusto Marzagão. Era o organizador do Festival Internacional da Canção, que a Globo exibia. Anos depois, foi assessor do Sarney e tentou emplacar a candidatura presidencial do Silvio Santos. Para isso, quis convencer o candidato do PFL, Aureliano Chaves, a renunciar. Os jornais apelidaram a manobra de "Operação Chaves". O TSE não aceitou e o Collor se elegeu presidente, desbancando o Lula.
- Marzagão considerava os meus programas muito simplórios e tentou implantar algumas mudanças, sem resultado. Por fim, decidiu mantê-los como eram antes, convencido de que a simplicidade era sua maior virtude. Ele chamava Chaves de "West Side Story à mexicana"... Voltando a explicação sobre o êxito de Chaves, no caso brasileiro, a dublagem contribuiu muito para o sucesso da série. Aqui me encontrei com o meu dublador brasileiro, Marcelo Gastaldi, um artista formidável. Muito curiosa a explicação que me deu para o nome do Don Ramon em português, Seu Madruga... Um tipo boêmio, que vagava pelas madrugadas, vejam só...
- Eu imaginava que fosse pela semelhança com um nadador brasileiro, Djan Madruga, que também tinha um vasto bigode.
- Além de dublador, Gastaldi era músico. Foi muito criativo ao fazer versões em português das minhas canções, como Que bonita vecindad, que transformou em Que bonita sua roupa...
- As produções da Televisa eram dubladas no próprio SBT, uma jogada do Silvio Santos para economizar. Isso irritava profundamente o Herbert Richers. Ele costumava dizer que as novelas mexicanas só começaram a ter audiência depois que a empresa dele começou a dublá-las. Hoje, no entanto, o trabalho do Gastaldi é mais reconhecido no meio da dublagem. O Márcio Seixas, por exemplo, elogia muito o trabalho dele no Chaves.
- Dos comediantes brasileiros, eu conhecia apenas o José Vasconcelos. Assisti um show dele em Lisboa e imaginei que fosse português. Aqui tive a oportunidade de descobrir o trabalho de outros cômicos do Brasil, país em que sou muito admirado e meus programas são exibidos até hoje. Me identifiquei muito com o Chico Anysio. Temos em comum o incansável trabalho criativo em várias frentes e o fato de alguns de nossos filhos terem seguido a carreira artística.
- Chico era seu fã.
- Eu sei, estive com ele. Falou do Nizzo, do Lug e do Bruno. Comentei da Paulina e do Roberto.
- Sempre dava um jeito de citar Chaves na Escolinha do Professor Raimundo, não havia bronca ou memorando que o impedisse. Havia até um comediante que imitava você a perfeição...
- Geraldo Alves. Fomos apresentados. Só não tenho aquele par de olhos azuis... Mas afinal, por que a negociação não deu certo???...
- O terremoto do México. A prioridade da Televisa era garantir a realização da Copa do Mundo de 1986.
- Lembro que um dos estúdios foi destruído pelo tremor. Um ator de nosso grupo, Raul Padilla perdeu sua casa. Realizamos uma série de shows para que ele pudesse adquirir uma nova residência.
- Assim, a compra da Record foi deixada de lado. Da nossa parte, como não havia interesse efetivo em adquirir produções da Televisa, simplesmente paramos de fazer contato.
- Não ter adquirido Chaves para exibir na Globo seria a única lacuna em sua carreira???...
- Creio que sim".
Será que na Reconexão aconteceria a reconciliação entre Carlos Villagrán e Roberto Bolaños???... |
Nenhum comentário:
Postar um comentário