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Num encontro memorável em 1985, Snoopy mostrou ser melhor amigo dos Trapalhões - e dos bandidos também... |
No quarto episódio da série "Os Trapalhões em Los Angeles", exibido no programa "Os Trapalhões" em 12 de maio de 1985, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, vindos do show da baleia Orca, na busca de pistas que levem ao tesouro procurado por uma ruiva estadunidense, encontram-se com ninguém menos que o cachorro Snoopy, o próprio, criação de Charles M.Schulz, assistem ao seu show, e como Didi observou de forma perspicaz, o cachorro é o melhor amigo do homem e Snoopy entregou ao quarteto mais uma pista, a questão é que o cãozinho também fez amizade com os bandidos que estão atrás do tesouro e repassou a pista a eles... O local do encontro dos Trapalhões com Snoopy é o parque temático Knott's Berry Farm, na região de Anaheim, ao sul de Los Angeles, nos Estados Unidos, precisamente no Camp Snoopy, um acampamento de férias com o nome do beagle dos quadrinhos e desenhos animados, e o show que o grupo viu e aprovou é o Camp Revue, uma revista teatral em que Snoopy faz acrobacias, mágicas e toca "When The Saints Go March In" no trompete, além de números musicais a cargo de um conjunto de lacraias, uma porquinha de cabaré, Miss Piggy, corre aqui, e um coral de aves que poderia ser tomado como os avós dos Angry Birds, o episódio quase todo é a exibição do show, entre entrecortada por uma voz em "off" que repetia com Insistência, subindo o tom a cada pronunciamento, "Cadê a cartola mágica, Snoopy???"... A voz era do diretor de "Os Trapalhões", Paulo Araújo, o primeiro Agostinho Carrara de "A Grande Família", que apesar das pretensões da produção, que teve cenas gravadas nos estúdios da Universal, em Hollywood, onde a trupe já havia estado nas filmagens de "Os Saltimbancos Trapalhões", 1981, a ideia era que a série de 14 episódios alavancasse a internacionalização do grupo, que não foi além dos países de língua portuguesa, mas como relata a biografia de Mussum escrita por Juliano Barreto, não houve interesse das produtoras estrangeiras, e a ambição inicial não impediu que fossem feitas algumas economias de isopor, como interpretar, em outro episódio, um coringa - o do baralho, vestido igual a carta - que tenta impedir os Trapalhões de encontrar o tesouro... Esses artifícios podem levar a pensar que a Globo gravou ali porque não conseguiu autorização do Valdisnei para filmar em seu parque, mas há um detalhe importante nessa história, o desenho animado do Snoopy então era exibido pelo SBT, com a dublagem da MAGA, aos domingos, 8 da noite, depois do "Programa Sílvio Santos", que terminava com o "Show de Calouros", junto com "Os Trapalhões" na Globo, antes do "Fantástico", em resumo, o humorístico precisava trabalhar forte para entregar a audiência lá em cima ao "Show da Vida" nem que fosse preciso pegar carona nos êxitos da concorrência, embora alguns meses depois o final do programa de Silvio tenha sido mudado para às 22 horas (o motivo, a transmissão do Campeonato Paulista às 11 horas da madrugada, que jogou o começo do programa, com o "Domingo no Parque", para as 13 horas...), marcando o início do apogeu do "Show de Calouros" e um grande abalo na audiência do "Fantástico", enquanto o rival direto de "Os Trapalhões" passou a ser a "Porta da Esperança", que sempre tinha algum ídolo do público infantil para enfrentar o quarteto global... Apesar de “Os Trapalhões em Los Angeles” ter sido resgatada há alguns anos por três colecionadores fãs dos grupos, a série pode ser enquadrada no que hoje é chamado de “lost media”, porque os “streamings” globais só tem os programas dos Trapalhões de 1988 a 1993, e na internet, o único capítulo completo disponível é exatamente o quarto, o do show do Snoopy, postado por um dos colecionadores que encontraram a atração, Dih Munhoz, a quem agradecemos pelos “frames” usados neste post, além dele está disponível uma pequena parte do episódio seguinte, em que o quarteto é perseguido pelos bandidos em uma atração extinta do parque, o Kodak Sky Jump, um paraquedas que era suspenso até o alto de uma torre com elevador panorâmico giratório que tinha o “K” de Knott’s (e também de Kodak...) no topo, e o trecho do coringa, possivelmente do final da trama, porque na cena seguinte, os Trapalhões e sua amiga gringa chegam ao esconderijo do tesouro - junto com os bandidos, é claro... Esse era mais um motivo para visitarmos o Knott’s Berry Farm, além do principal, a sua inquestionável importância na história do entretenimento, pois serviu de inspiração para dois gigantes desse segmento, Valdisnei e Zé Vasconcelos... Em 1952, o criador do Me Queimou Zé acompanhou a inauguração da ferrovia do parque, Ghost Town and Calico Railway e também filmou todo o local, acompanhado do fundador, Walter Knott, buscando ideias para a construção da Valdisneilândia, aberta em 1955 com a presença de Walter, que era amigo pessoal de Valdisnei e recebeu um “ticket” dourado junto com a esposa, para comparecer ao parque, o intérprete do Rui Barbosa Sá Silva da “Escolinha do Professor Raimundo” planejou na década de 1960 a Vasconcelândia, um grande parque temático na região de Guarulhos, o nome remete imediatamente ao parque que Valdisnei montou em Anaheim, porém Jô Soares revelou em um documentário sobre o comediante, “Ele é o Espetáculo”, de 2009, que ao criar a Vasconcelândia, Zé tinha em mente o Knott’s Berry Farm, que não lembrou o nome, porém definiu como “uma cidade de caubóis, onde as coisas iam acontecendo”, o parque de Vasconcelos chegou a funcionar, porém com o tempo, e sem muitas das atrações pensadas inicialmente, se transformou numa espécie de clube de campo, sendo cenário do filme “O Menino Arco-Íris” em 1983, e por fim terminou abandonado, como constatou o “São Paulo Antiga”... Mesmo assim, estávamos mais do que animados para comparecer ao parque, depois de constatarmos que o ovo do lanchinho comprado no Walmart era embalado a vácuo, mas não tinha sal, a descoberta da minha mãe em seu quarto foi um filme da Hollywood clássica passando na televisão, um musical da Metro, certamente filmado mais ao norte do nosso hotel de Anaheim, em Hollywood, não reconhecemos os protagonistas, o herdeiro de um salão de beleza em Paris, um produtor da Broadway que traz dois colegas de teatro para obter a herança e conseguir o dinheiro do investimento em futuras montagens, tendo a companhia de uma amiga nova-iorquina, mas ao chegarem na capital francesa, descobrem que o salão está à beira da falência e trabalham forte com as outras duas herdeiras num desfile de modas para arrecadar fundos e saldar as dívidas deixadas pela tia que era proprietária do estabelecimento, com uma tarefa adicional para uma delas, formar um triângulo amoroso com dois dos produtores, um deles seu próprio primo, só fomos ter uma luz quando a herdeira cortejada começou a cantar “Smoke Gets in Your Eyes”, música que é mais conhecida na versão do grupo The Platters, de 1959, mas ajudou a identificar o filme, “O Amor Nasceu em Paris”, de 1952, versão do musical da Broadway, “Roberta”, de 1933, origem da canção, e sua intérprete, Kathryn Grayson, responsável por representar Stephanie, a herdeira cobiçada pelo primo produtor, Al, vivido pelo comediante Red Skelton, papel que deveria ser de Gene Kelly, com quem Red vagamente se parece, porém o filme só ganhou com a troca, porque sua comicidade é excelente, e pelo colega de trabalho de Al, Tony, vivido pelo ator e cantor Howard Keel, substituindo a escolha inicial do estúdio, Frank Sinatra, sendo que Keel é mais conhecido por seu papel naquele filme paradigmático do porre que era a “Sessão da Tarde” dos anos 1980, o musical “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, de 1954, depois na série “Dallas”, “O Amor Nasce em Paris” é mais “assistível”, em boa parte pela trama romântica e pelas apresentações de Al, que hoje seriam chamadas de “stand-up”, alis, o terceiro produtor, Jerry, é feito por Gower Champion, a outra herdeira, Clarisse, foi interpretada por Marge Champion, que casou com Gower em 1947, uma década depois de ter sido modelo para os animadores de “Branca de Neve e os Sete Anões”, e a nova-iorquina, Bubbles, esteve a cargo de Ann-Miller, presença constante nos musicais da MGM nos anos 1940 e 1950, e então é por isso que, pesquisando sobre o filme na internet do celular, nos distraímos na via em frente ao hotel, que continuava recebendo obras de recapeamento e perdemos o primeiro Uber, Omar do Nissan Kicks, SUV que eventualmente aparece nas solicitações de viagem no Brasil, é mais fácil encontrar seu irmãozinho menor, o compacto Nissan March, ou então o trio que domina o Uber X no país, Fiat Mobi, Hyundai HB20 e Renault Kwid, e em Anaheim, no lugar do Nissan, veio o Toyota Yaris do Frikman, bem menor que o Camry que nos trouxe do aeroporto, que teve de ser laçado na unha, bem ao estilo "seguuuuuura, peão", conforme a descrição que Jô Soares fez do parque que vamos visitar, e o preço da viagem ficou em 12,97 dólares...
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Quatro décadas depois, uma tirinha nos tapumes indica que a área do show do Camp Snoopy está em reforma... |
Chegamos na hora que era hasteada a bandeira e cantado o hino dos Estados Unidos junto das filas para a entrada, no caminhos viemos reparando nos restaurantes e lanchonetes pelo caminho, para irmos na saída do parque, e ao lado da entrada encontramos, além da loja Peanuts Headquarters, uma filial do Friday's, restaurante de "casual dining" que chegou a ser referência no Brasil antes da vinda do atualmente onipresente Outback... Entramos na fila e vimos que o ingresso de um dia custa 99,99 dólares, o passe anual mais barato é 114,99 dólares, minha mãe quer um cent de troco, o que não foi possível, porque eles só aceitam pagamento com cartão, no entanto a entrada foi animadora, as montanhas-russas passando bem do lado dos grupos de excursões escolares, o moinho de fazenda com o símbolo do parque, que começou como um local de plantio e venda de framboesas há um século atrás, decorado com enfeites de Natal, a cachoeira com o barco do Snoopy conduzindo sua tropa de passarinhos escoteiros, os irmãos gêmeos do Woodstock, porque a área do cachorro do menino da cabeça grande, o Camp Snoopy, reproduz um acampamento de férias, inaugurado em 1983, fez o Knott's Berry Farm ficar conhecido como "Parque do Snoopy"... Neste ponto do parque acontece o show visto pelos Trapalhões em 1985, porém o palco do espetáculo estava cercado por tapumes, fechado para reforma, uma tirinha no muro de madeira mostra Snoopy caminhando (com duas patas!!!) e vendo uma placa "Zona de Construção", depois o Woodstock remexendo em seu ninho e por fim mais uma placa, "Desculpe pelo Incômodo", a maior evidência da passagem dos comediantes brasileiros pelo local é um relógio tipo carrilhão com o Snoopy escoteiro, que na série sinaliza o início da "Revista do Acampamento" e está no alto de uma loja, concebido pelo designer Eddie Soto, no livro sobre a história do parque há um esboço em desenho, chamado de "animated clock", com data de dezembro de 1982 - a área foi inaugurada em julho do ano seguinte... Quarenta anos depois, a opção que tínhamos, eu e a minha mãe, era explorar as atrações do "Camp Snoopy", compreensivelmente destinadas a crianças pequenas, como o Flying Ace, aviõezinhos girando em torno da casinha voadora do Snoopy, ou a Grand Sierra Railroad, uma belíssima ferrovia a vapor em miniatura que não estava funcionando, só dava para fotografar a locomotiva e algumas cenas na beira dos trilhos, como os irmãos Linus e Lucy esperando pelo trem, falando nos irmãos, a trilha sonora dos alto-falantes era da melhor qualidade, as faixas do disco "Charlie Brown Christmas", do Vince Guaraldi Trio, e uma das canções de chama exatamente "Linus and Lucy", eu gosto de "Christmas Is Coming", ou Snoopy se acabando de fisgar peixes e enquanto seu dono Charlie Brown só conseguia pegar pedras... Perto dali, posava para fotos o pequeno Franklin, um personagem que todo mundo devia conhecer melhor, o primeiro personagem negro na tirinha dos Peanuts, que aqui o "Jornal da Tarde", em 1966, batizou de "Minduim", e a dublagem MAGA do desenho deu a entender que era o apelido que Patty Pimentinha deu a Charlie Brown (na verdade, era Chuck...), pior fez a editora de "O Cruzeiro", que no início dos anos 1960 o batizou de "João Barbosa" quando lançou o gibi "Xerêta, O Cão Amigo", voltando a Franklin, ele foi a maneira com que Charles Schulz incorporou as transformações da sociedade estadunidense, em especial as lutas por igualdade de direitos... É no caminhão do Franklin que embarcamos no Rocky Mountain Truck Co., um caminhão feito para bebês irem na cabine e os pais na boleia, minha mãe foi no caminhão da Sally, irmã do Charlie Brown, Isaura nos desenhos do SBT, a Globo foi de Sally mesmo, e na falta dos bebezinhos, nós mesmos tocamos a buzina, o Kite Flyer reproduz a árvore engolidora de pipas que persegue Minduim, quer dizer, Chuck, estava com apenas cinco minutos de espera, eu não pude ir, por limitação de tamanho, mas minha mãe fui e lá fui eu fotografar seu voo bem do lado de uma avó que registrava em vídeo o passeio da neta... O Linus Launcher estava fechado, assim como o "Huff and Puff", simbolizado por uma placa com Snoopy emborrachado no chão... O ponto de venda de pelúcias Woodstock Birdbath estava aberto, assim como estava funcionando a High Sierra Ferris Wheel, uma mini-roda gigante em que tivemos acesso liberado, seguindo as especificações para adultos, uma pessoa por cabine, conforme explicou o operador, Michael, um sósia do John Candy, que imaginávamos com a voz esganiçada do dublador Marco Ribeiro falando no filme "Férias Frustradas": "desculpe, senhor, você não ouviu o Wally, o parque está fechado" (na versão exibida pela Globo nos anos 1980, o dublador era Orlando Drummond, o próprio...), o que não era o caso da roda gigante, e assim pudemos ver do alto o tráfego de ônibus na avenida em frente ao parque, na saída, passamos pelo Pig Pen Mud Buggies, atração que é simbolizada não por acaso pelo personagem Chiqueirinho e sua inseparável nuvem de poeira, mas que por estar fechada, servia apenas para uma jovem mãe amamentar seu filho com tranquilidade, e chegamos no Rapid River Run, uma mistura de barco Viking com La Bamba do Playcenter que agitou as famílias estadunidenses presentes na atração, porém não empolgou nem um pouco a nossa mãe... Seguimos pelo caminho com uma estátua do Charlie Brown cuja cabeça lembrava a Mafalda careca, sem contar outras celebridades cabeçudas como o dono do Snoopy, entre as quais Amanda Meirelles, Ísis Valverde e Rafa Kalimann, a campeã do BBB 23, então, é o Charlie Brown de corpo inteiro (!!!), passamos por uma trilha na caverna embaixo de um restaurante, vimos mais uma tirinha nos tapumes do Camp Revue, Linus alertando Snoopy sobre a demolição de sua casinha, da qual ele pula em cima do irmão de Lucy quando ele grita que os tratores estão vindo, completamos nosso "tour" pelo Camp Snoopy com a "Balloon Race", a mãe primeiro, pra gente fotografar, depois a gente, lembrando da perseguição aos Trapalhões na Sky Jump e do Mister Happy distribuindo dólares em "Estados Anysios de Chico City", é que num dos balões estava o Joe Biden, quer dizer, alguém muito parecido com ele... Ah, sim, a loja do relógio serviu também para resolver um problema pendente desde a chegada a Los Angeles, adquirimos um boné, com Charlie Brown e a faixa de sua camiseta na frente e o nome do parque atrás, e aproveitamos para garantir o presente dos amigos com um ônibus escolar em miniatura, também com o detalhe da camiseta do Zeca Camargo, quer dizer, do Chuck...
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Os quatro Trapalhões assistiram e aplaudiram o show do Snoopy, sem ficar perguntando sobre a cartola mágica... |
Depois de relaxarmos vendo as pessoas subirem e se esgoelarem na montanha-russa enquanto tomávamos uma Diet Coke, fomos em busca do passado do parque, que começou com o plantio e o comércio de framboesas e derivados, depois teve o restaurante de frango frito da Senhora Knott a partir de 1934, e em 1940 a Ghost Town, a cidade do Velho Oeste citada pelo Jô, trabalhando forte na ambientação da "Corrida do Ouro" na Califórnia na metade do século com XIX, com bancos para fazer fotos ao lado de garimpeiros e cortesãs, a escola que parece a do desenho "Adeus às Aulas", do Pica-Pau, com sino e tudo, serralheria, marcenaria, Pony Express (correio a cavalo...),loja de armas, funerária, estábulo, Birdcage Theatre (teatro "vaudeville", ou em bom português, "cabaré"...), Steve Martin em pessoa esteve ali em 1965, o ferreiro oferecia "ferraduras personalizadas" e trabalhava forte à maneira de 1849, usando o malho e a bigorna, já o marceneiro não era o da cama do Jô Soares, porém esculpia um banco com uma mulher sentada usando para debastar a madeira uma motosserra (!!!), John Carpenter, corre aqui, e o trabalho do artista é excelente, como demonstra o banco com Renato Alexandre, o amigo do Bruno Aleixo, ou seria o Monstro da Lagoa Negra, de quebra encontramos Whittles, um simpático garimpeiro de barba e cabelos brancas, na linha do Stinky Pete do "Toy Story", sem o cheiro, que em 1973 se tornou o mascote do parque, e uma década depois serviu como motivo para o produtor Ron Mizaker trazer Snoopy e sua turma para o Knott's Berry Farm,um cheirinho de churrasco se espalhava pelo ar, porém o local do almoço foi decidido pela minha mãe quando atravessou a linha do trem e viu a pizzaria ao lado do Good Times Theatre, uma evocação da época de ouro da Broadway e de Hollywood, Elvira, a Rainha das Trevas, apresentou-se aqui no Halloween de 1982, agora com um show natalino do Snoopy em cartaz... Comemos uma versão rústica das massas do Spoleto, um espaguete à bolonhesa servido em um prato de papelão, com exatamente quatro almôndegas contadas pelo supervisor do estagiário que montava os pratos, porém a sobremesa era biscoito fino, ou melhor, um bolo napolitano que preencheu com sobras a lacuna do nosso aniversário com pizza do dia anterior, o que não foi tão fino assim é o fato de que a mãe não pode pagar a refeição com dinheiro, sendo salva pelo nosso cartão... Em compensação, encontrou na saída do restaurante um carrinho de batida, e ela não perde um apesar de nunca ter tirado carteira de motorista, e o filho que lute para fazer fotos dela, que só percorria as bordas da pista, porque não ir para o meio, como o clone da Fátima Bernardes, bem em frente estava a loja onde compramos o livro com a história do parque, onde vocês acham que tiramos as informações históricas a respeito do Knott's Berry Farm, o que nos lembra que do outro lado estava um fliperama, uma loja que vendia doces e sucos de framboesa, estes também disponíveis no quiosque que vendia copos de refil, e o sabor deliciosamente doce da framboesa fez a gente visitar o local várias vezes, também para garantir a cota de Coca Zero, até a vendedora ir embora e fechar o ponto de venda no final da tarde - às 17 horas - na lojinha havia uma exposição de "soap box cars" - carrinhos de rolimã, que evocava uma antiga atração do parque, a Wacky Soap Box Racers, concebida pelo nosso conhecido Eddie Soto, e na porta do fliperama, junto a um furgão de entrega de produtos de framboesa onde estava posando para fotos com os visitantes o urso Boysen - de boysenberry, uma cruza de três espécies de fruta, entre elas a amora e a framboesa - personagem principal do Knott's Bear-y Tales, um passeio por uma feira do interior do início do século XX, em plena Belle Epoque estadunidense, concebido pelo designer Rolly Crump, egresso do Valdisnei, e seu filho Chris Crump, em meados dos anos 1970, num esforço do parque para atrair o público do concorrente, sendo que Eddie Soto se inspirou num relógio construído por Crump para fazer o carrilhão do Snoopy Camp... Com a mãe determinando nossa rota pelo parque, chegamos a área praiana Boardwalk, uma referência às praias californianas, que não estão muito longe daqui, dá até para lembrar do Clark Grizwold reclamando com o dono do parque em "Férias Frustradas", "imagina ir para a Flórida e encontrar a praia fechada para reforma", aqui se destacam a tonitruante montanha-russa Hang Time, a torre do Sky Jump, montada em 1976 para celebrar os 200 anos da Independência dos Estados Unidos, hoje sem o elevador panorâmico e os paraquedas usados pelos Trapalhões e os bandidos na caça ao tesouro da ruiva que não era a garotinha do Charlie Brown, uma lanchonete do Jonnhy Rockets e uma Kombi customizada como choperia, ambos fora de serviço, a mãe evitou as subidas e descidas da Hang Time, preferindo os giros do Pacific Scrambler, apesar de lamentar a ausência de vistas do Oceano Pacífico, a gente deixou pela queixa sobre o calor, ainda mais porque levamos nosso casaco de nailon para passear outra vez... Enquanto a nossa mãe descansava na grama sintética da plateia do show de Natal, cujo palco estava sendo montado, fomos atraídos pelo barulho de um trem, caminhamos até a linha que separa a Ghost Town do Good Times Theatre e vimos passar um trem prateado que misturava as características de uma locomotiva, de um caminhão e de um vagão de passageiro, fizemos uma foto e fomos atrás da estação para embarcar nesse trem, e a encontramos perto da montanha-russa Calico Mine Ride, outra citação explícita da "Gold Rush" de 1849, um ano depois da Califórnia ser incorporada ao território dos Estados Unidos, uma estaçãozinha de madeira denominada Ghost Town, com uma porteira do lado, e o movimento de pessoas na passagem de nível lembrava fortemente a região central de Mogi das Cruzes, tudo isso controlado por uma versão de Buffallo Bill que lembrou de cara o time de foras-da lei escalado pelo Pica-Pau, "Buffallo Bill, Bat Masterson, Billy The Kid, Wyatt Burp, Wild Bill Hiccup", fomos para a fila do trem observando dois vagões verdes, o da frente se chamava Edna, que pela cor poderiam ter sido da antiga Sorocabana, a mãe usava mais a Paulista, e então chega o nosso objeto de desejo, o trem Galloping Goose ("Ganso Galopante" em inglês...), um "railroad motor car" movido a gasolina, adequado a linhas de bitola estreita, muito comuns nas décadas de 1930 e 1940 nos Estados Unidos, chamadas no Brasil de automotriz ou litorina, aqui movidas a diesel, adquirida pelo parque em 1954, que também chegou a ter locomotivas a vapor com vagões de madeira no trecho... Na parte dos passageiros é que acontece o assalto de que os Trapalhões também foram vítimas há quatro décadas atrás, na Internet tem a cena em que os pistoleiros devolvem ao quarteto os itens roubados, hoje o assalto de mentirinha ficou a cargo de um bandido que lembrava muito o Jovem Indiana Jones, que até se interessou pelo nosso copo de refil, mas saiu com as mãos abanando porque desconhece a existência do PIX, então é por isso que após o final da viagem, quando fazíamos mais algumas fotos do trem, ele trocava telefones com uma ruiva que não era a dos Trapalhões nem a garotinha do Charlie Brown... Eram quase 17 horas, fotografei o trem da Calico Mine Ride, a mãe evitou o passeio de diligência, sentiu dó dos cavalos, o quiosque do refil de suco de framboesa estava fechado, porém consegui fazer uma foto do banco com personagens mais concorrido de todo o parque, ocupado o dia inteiro, onde estava sentada uma mulher de cabelos brancos, chapéu e vestido azul, que idêntica a Senhorita Clotilde, quase dava para ouvir, "pois fique sabendo que eu não sou nenhuma bruxa", vimos uma criança oriental desafiar a proibição de pisar no palco do Califórnia Market, fotografamos o Bird Gage Theatre às 17h11 e já tinha anoitecido, a Fiesta Village fica para uma próxima vez, saímos e deparamos com o Friday's fechado, e como não experimentamos o frango do restaurante da senhora Knott, imergimos na loja Peanuts Headquarters, a balconista trocando uma ideia com a velha a fiar da Ghost Town, um enorme Snoopy escoteiro trompetista - fala da cartola mágica agora, Paulo Araújo, fala - o consultório psiquiátrico da Lucy, "a doutora está", chocolate natalino da Patty Pimentinha, pelúcias do Franklin, canequinhas personalizadas, uma delas com o nome Judy, lembrando da famosa frase dita por Tadeu quando a namorada sugeriu a venda de camisetas durante os shows que ele produzia, inspirada nos parques dos Estados Unidos, “Marimbá não é Orlando!!!”, o pinheirinho mirradinho de Natal do Charlie Brown, também representado por um enorme boneco de madeira de braços abertos que faria o Benito de Paula cantar para seu amigo, comprei uma camiseta preta do "Minduim" retratado no estilo da pop-art, fiz medalhinhas de recordação, que também só funcionam con cartão de crédito, e sai com a minha mãe, o problema é que tomamos a direção oposta aos restaurantes que tínhamos visto na viagem de ida e o melhor que encontramos foi um posto de gasolina, como eu não queria explicar que os Estados Unidos fazem guerra sempre que precisam de combustível mais em conta, cheguei no estacionamento do Walgreens e pedi um Uber, e assim fomos salvos, debitado o pagamento de 15,97 dólares, por Hwang Wei e seu Passat, carro que a Volkswagen importa da China, porque ela não monta um parafuso nos Estados Unidos, traz tudo de suas fábricas na Alemanha, Brasil, China e México, e vamos de "Don't Stop Till Get Enough" e "We Are The Champions"... Ainda tive fôlego para, depois de retornar ao hotel, sair de novo a fim de jantar, pegando o Chevrolet Trax de Emilio a 11,90 dólares, viagem em que descobri que aqui também tem "da ponte pra cá", a área do hotel é essencialmente residencial, de moradores com e sem teto, alguns de trailer, o próprio hotel não se converteu num condomínio residencial de baixo custo, como tem acontecido frequentemente com os "motor hotels" na região de Orlando, aqueles com estacionamento na frente e quartos no fundo do terreno, feitos a princípio para quem viaja de carro, atravessando o viaduto, perto do Valdisnei, na mesma Harbor Boulevard, hotéis mais caros e incontáveis opções de "casual dining", entre o Joe's Crab Shack e o Red Robin, ficamos com a comidinha brasileira do Outback, salmão com brócolis e molho de camarão mais refil de Coca Zero por 38 dólares, preço compatível com os restaurantes da rede no Brasil, paguei "cash" com duas notas de 20 dólares, "no change", que ficou mais em conta que a gorjeta de 10%, quando você acaba o pão australiano trazem outro sem precisar pedir e com uma quantidade de manteiga equivalente a uma bola de sorvete, "O Último Tango em Paris" perde, apreciamos os hoteis da Marriot atrás do Outback e voltamos a 10,91 dólares no Toyota Camry do chinês Peter, que deixou os óculos sob a testa para dirigir, que coisa, não...
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Em nossa visita ao parque Knott's Berry Farm não havia sequer uma cartolinha para contar história no palco... |